16 de jun. de 2009

À venda

Onde está seu celular? Opa, na minha frente.
E o amado? Você diz o?
Cor do cabelo? Preto.
Sua mãe? Vai bem, obrigada. E a sua?
Seu pai? De acordo com ele, correndo 8 km/hora.
Minhas irmãs? Lindas.
Seu filho? Nem uma orquídea eu tenho, e olha que eu quero, hein?
O que mais gosta de fazer? Sexo? (a interrogação é só pra amenizar)
O que você sonhou na noite passada? Minha ex-chefe com barba. Eu saindo do emprego atual no meio do expediente atrás dela. Culpa. Beijo um amigo do terrivelzinho. Eu. Culpa (pensando em uma desculpa).
Onde você está? Working (é?)
Onde você gostaria de estar agora? Assistindo Lost no sofá de meia.
Onde você gostaria de estar daqui a seis anos? De férias em Paris.
Onde você estava há seis anos? Bem longe de Paris.
Onde você estava na noite passada? Home sweety home.
O que você não é? Boba nem nada.
O que você é? Dramática.
Objeto do desejo? Uma mesinha, tipo armarinho, azul, com cara de antiga.
O que vai comprar hoje? Não sei, alguma dica?
Qual sua última compra? Um cigarro que deve ta chegando.
A última coisa que você fez? Projetos divertidos no Word, ouvindo um tal de voz estranha, Pizarelli.
O que você está usando? Cinza.
Na TV? Lost.Lost. Lost.Lost. Ok, super acompanhei a Izzie em Grey’s Anatomy ontem. Oh, Derek....
Seu cachorro? Até lançarem cachorros transgênicos que ficam filhote pra sempre, no thanks.
Seu computador? Com problema no wireless.
Seu humor? De gente impaciente.
Com saudades de Alguém? Vóvis.
Seu carro? Pérola, para mim.
Perfume que está usando? Nenhum, perfumes diurnos me dão dor de cabeça.
Última coisa que comeu? Balas de chocolate e morango.
Fome de quê? Alguma coisa bem deliciosa pra beber.
Preguiça de? Mim.
Próxima coisa que pretende comprar? Uma manta dessas com fios especiais e com brilhinho pro sofá.
Seu verão? Rainy.
Ama alguém? Muitos.muitas.
Quando foi a última vez que deu uma gargalhada? Agora pouco, dos meus cigarros de menta de puta.
Quando chorou pela última vez? Vixi, esses dias, hein?

PS: Copiado dessa moça desse blog que eu não conheço mas parece legal vai lá você também

5 de jun. de 2009

O incrível dia em que Aurenida assassinou a pimenta

Aurenida levantou-se naquele dia com sede de sangue.

Ergueu levemente os olhos embolorados, ajeitou os cabelos presos com suas mãos secas e caminhou até a cozinha a passos firmes, que em nenhum momento lembrava a moça tímida que nas horas vagas gostava de - placidamente, quase estupidamente - assistir TV e filmes românticos dublados.

Seu intuito era assassinar o pão francês.

Foi ao gaveteiro buscar o instrumento que melhor atendesse suas necessidades homicidas. Entre garfos, facas de carne e até saca-rolhas (seu grau de sofisticação atingiu esse ponto), escolheu uma prosaica, mas não menos eficiente, faca de serra.

Apertaria sua vítima com força entre os dedos , esfolando a casca entre as unhas e deixando cair pelo chão pedaços da cobertura do pobre pãozinho. Chegaria à carne macia do seu recheio e a desfiguraria com a faca lentamente, até que seu antigo vigor francês se resumisse a um pequeno bolo amassado, mastigado, sujo de farinha crua e dura.

Mas, não, não havia pães no armário. Extremamente mal humorada e muito insatisfeita, Aurenida começou a andar compulsivamente pela cozinha atrás de algo que pudesse ser destruído por sua força homicida recém-descoberta.

Bolachinhas já empacotadas, geléias vencidas, barrinhas de cereal com chocolate.

Isto era definitivamente um afronta, como dar fim a barras de cereal? Ela tinha sua dignidade, não precisaria acabar algo que já assassinava as pessoas aos poucos. Oferecer chocolate saudável ( não era essa a promessa das famigeradas marcas de produtos naturais?) já era castigo suficiente. Poupar as pessoas da experiência de lambuzar os dedinhos ao se deliciar com chocolates gordos-calórios-suculentos já era uma maneira de decretar e calcular a morte de qualquer um.

Quem já passou por essa vida e não viveu, não se apaixonou, não se entregou aos desejos, nunca teria nada, como dizia o poeta, talvez pensasse Aurenida, isto é, se conhecesse Vinícius de Moraes.

Não.

Ela queria algo vivo, um inimigo à altura, forte, quente, algo que a enfrentasse seu desejo malígno de morte naquela manhã de sexta-feira, algo que permitisse que ela utilizasse instrumentos apropriados, em um combate lento e macabro e quase.

(Pausa dramática)

Foi quando Aurenida visualizou. Imóvel, desprotegido, sem tampa, dormente, seu inimigo potencial: o pote de pimenta. Absolutamente abandonado, sem barreiras de proteção, o pequeno potinho de vidro quase vazio mantinha-se em pé enfrentando as desventuras de uma noite em claro no mármore frio.

Ela não titubeou, correndo até a gaveta lateral, quase arrebentou as mãos ao tentar abri-la. Muniu-se de colher, pegadores, facas, garfos, até rolhas (sim, ímpetos criativos). E de uma só vez abocanhou com as unhas o pobre-potinho-quase-vazio-de-pimenta.

......

Aurenilda lambuzou-se. Todo o processo de assasínio (que não será narrado aqui em respeito ao fraco estômago dos leitores) durou algo em torno de meia hora, 40 minutos. Quando acabou, Aurenilda lambia os lábios satisfeita e muito saciada consigo mesma. Isso sim era prazer real, por um curto espaço de tempo nem se lembrou das mãos suadas e dedos grossos do marido e.

Limpou o suor da testa com as costas das mãos, tinha que dar fim aos vestígios de seu crime. Jogou todos os restos reciclados do defunto em um mausoléu abandonado feito de caixa de leite e, com extrema diligência, higienizou todo o local do crime.

Quando tudo estava terminado, Aurenida olhava para si mesma quase sorrindo, uma última polida na mesinha de canto e era o fim....

Foi quando ela avistou ao longe um quieto e muito tradicional Cappucino. Afinou os dentes, um pouco de saliva escorrendo pelo canto da boca. Não poderia dar fim ao fresco café, não haveria tempo hábil para se livrar das provas.

Rápido, indolor, eficiente. Atirou com força e a distância o Capuccino rumo à lata de lixo, como um bebê indefeso abandonado pela mãe. O semi-café, do alto de sua vaidade pensava:

Este é meu fim. Um cappucino de 7 reais, assassinado pela vil mão de tão ignóbil ser. Acabar em uma lata de lixo....

......

Quando a primeira testemunha chegou ao local do crime encontrou as duas vítimas.O Capuccino foi resgatado ainda com vida. Um rápido banho com água corrente e ele estava são e salvo de volta no armário. Mas a pimenta, pobrezinha....

Seus restos mortais permaneceram em seu leito-de-morte-caixa-de-leite. Era uma boa pimenta do interior, sempre trazendo mais vida e cor à paladares deprimidos e amarelados de cigarros.

......

Aurenida permaneceu imóvel. Quando a testemunha saiu podia jurar que Aurenida assoviava uma música, não reconheceu a melodia mas, definitivamente, lembrava muito Vinícius...