23 de mai. de 2013

aleijadinha

o sol brilha la fora, como uma maquina eletrica
eu me deito. sinto as costas que ardem, de repente, eu so sinto muito sono
tinha medo de escrever e que tudo que escrevesse se tornasse realidade
e eu tinha medo do moço porque ele era sincero demais e eles tinha as unhas limpas
e eu nao confio em homens com unhas bem feitas.

eu nao conseguia mais respirar, mas eu nao tinha mais medo de escrever sobre isso
eu nao sabia mais pensar.
e nem gostava mais do tarantino e achava que pra escrever poesia eu precisava de rimas
mas eu posso escrever como quiser, porque nem sou escritora e nem tenho contrato e nem tenho um editor que me diz que poesia nao vende, com excecao da angelica la e dos seus gatos

entao eu saio de casa com as unhas mal feitas porque nao sei colar as unhas falsas direito, e elas ficam gordas e todo mundo repara.

o cobrador do onibus, a moça do caixa do supermercado. ate o cachorro na coleira, antes de ter o pescoço engolido por uma gaivota do mal que passava.

eu jogo agua fria na dona do cachorro com a coleira na mao, ela estava mais roxa que seu chiuauwa com o pescoço pendurado na coleira.

a gaivota do mal, talvez fosse um gaviao, sobe ate a janela do segundo andar do predio mais proximo.
a moca que mora no segundo andar, de iPhone na mao. nao. nao era isso. ela tinha trocado, ela nao tem mais um iPhone, ela tem um sony. ela mudou tambem o corte de cabelo e o oculos de sol, ja que nao podia mudar o marido.  ela tem um ray ban agora. e ela nao gosta de sapatos apertados, mas ela usa porque isso faz ela classy.
a moça do segundo andar, essa mesma, posta no seu sony a photo do urubu com a cabeça do cachorro pendurado no bico. disse que ele ia pro sul, em direcao ao lixao da cidade, onde meninos de rua catavam lixo da rua e separavam para proxima exposicao de arte do vik muniz.

eu bem vi, depois de alguns anos, no sesc, uma escultura de autor desconhecido: menina de unhas gordas com cachorro decapitado. dizem que nao estava assinado e a toda a cena dava um ar meio barroco.


7 de mai. de 2013

Faltam 10 minutos para o fim da vida

Para mim mesma eu posso dizer: mas escrevo, e escrever nao é dizer, é marcar para os outros é ficar para a posteridade das minhas memorias inconnues.

Entao o texto é meu, dizendo para mim mesma: o que so eu sei. A dor que so eu conheço, e a faca no peito nao fura o papel.

So a minha dor que ninguém mais sentira, ninguém mais sabera. pois o toque da mao sobre a folha é maquina de impressao de faz de conta. O meu mundo inenomado.
indecifravel.

Faltam dez minutos para o fim da vida.

Uma francesa vestida de vermelho. Ela tem um filho, um patinete e quatro  vasos de flores. Ela briga com alguém no telefone. Ela ja gritou com o filho. eu nao sei se ela esta nervosa ou se é so o jeito normal dela.

Acho que a raiva dela é a minha.

ps: eu também achei ela um pouco feia.

faltam sete minutos.

o trem vem e passa por cima da menina.
a dor aparece e senta em cima da ferida.
a ferida é sangue sangrando, o sangue é vermelho amor.
o amor nao existe, minha dor é um buraco com vida.

faltam quatro minutos.

as meninas-fancy-bitchs-americanas usam perfumes baratos e se sentem muito finas por estarem na França.

Mas a França nao é fina.
A França é uma invençao do inconsciente coletivo.

Eles nem bebem vinho!

Eles sao piores do que eu.

faltam dois minutos.

o trem adiantado, ele ja vem lotado.