16 de dez. de 2009

AtosFatosCacos

Eu preciso confessar.Estou com muito medo.
Medo do que, minha santa?
Medo, oras. Medo de ....sei lá....não existe um objeto, medo pra mim é só aquela sensação de estômago vazio, o pescoço duro, uma respiração rápida e curta.
Mas não precisa, senta aqui.
Uhmm...sério?
É, vem cá. Encosta no meu peito. Não deixo você ficar com medo. Pois, quando estou com você perco o medo de tudo. Quero que você se sinta da mesma maneira comigo.
Uhmmmm...
Na verdade, queria te dizer, faz tempo....Minha vida é tão melhor com você. Digo, eu admiro e me espelho e sinto tesão...
É tipo uma declaração isso?
Ahn, uhmmm, sei lá. Só queria te dizer o quanto gosto de você e fico feliz que goste de mim também.

CORTA

Eu preciso confessar. Sinto tanto amor que não cabe dentro de mim. Sabe, paixão?
Sei, daquelas que explodem todos os minutos. Daquelas bem bregas de músicas sertanejas.
Não, na verdade é uma daquelas bem dramáticas e infantis. Enlouquecidas.

PAUSA

Ele não entende meu amor por ele. Ele não entende o excesso de amor. Sabe, né? As coisas para ele são tão sempre tão. Ele não entende eu me jogando cazuzamente aos seus pés. Aliás, acho que ele nem gosta de Cazuza, quem gosta dessas coisas assim, sou eu.
E eu fico, sabe? Vem aqui, deixa eu te amar de joelhos. (Não seja cafona)

SILÊNCIO

Mas eu não quero me calar, eu não quero não dizer tudo isso. Todas essas vozes. Mesmo que soe egoísta, mesmo que soe contraditório.

Certo, meu caro Brecht?

Eu não quero essa entrega desmedida, essa combustão interna. Digo, lidar com essas janelas de vidro que me sufocam.

LAMPEJOS

  • E a chuva que caia, de repente, implodiu as janelas.
  • Caminhei a passos curtos em busca da tua imagem refletida em cada um dos pedacinhos.
  • Juntei peça a peça, como um grande quebra-cabeça.
  • Sua imagem perfeita, refletida em meus braços, santificada e sufocada na prisão de estilhaços que fiz de você.

15 de dez. de 2009

Sobre as alcovas

- Sabia que é possível morrer de tanto amor?
- Ãnh?
- Pera, a música triste acabou.
- E daí?
- E daí que a gente só tem essas ideias quando tocam música triste.
- Pelo menos você ainda gosta de música, quem ama de verdade não tem mais ouvidos para música, nem para poesia, nem para.... Sei lá mais o que, nem me lembro mais, tanto tempo faz que não fico apaixonad...
- Eu amo mesmo, nunca deixei de me apaixonar. Ok, sempre pelas pessoas erradas,e daí?
- Conhece alguém que se apaixona certo? É sempre meio torto, meio sozinho. Já parou pra pensar nisso?
- Isso o quê?
- Isso de solidão.
- E o amor?
- O que tem?
- Onde fica o amor na solidão?
- Esse é meu ponto, amar é uma via de mão única. Você ama a ideia de ser o que o outro é. Isso é muito egoísta.
- Nossa, quanta bobagem. Você podia parar de repetir as coisas que ouve por aí.
- Bobagem? Eu repito porque realmente acredito nisso.
- Acredita nada, que eu bem te conheço.
- Humpf...
- Diz.
- Diz o quê?
- O que você realmente acha do amor. O que te vem na cabeça?
- Uhmmm...dor de barriga, ansiedade, medo, insegurança.
- rsrsrsrs
- Porque ri?
- Eu? Por nada não. to aqui lembrando de outra coisa que não tem nada a ver com amor.
- O quê?
- Inveja.
- Do nada?
- É. Tipo, porque as pessoas escondem tanto que sentem inveja? E são competitivas e sentem calafrios de pensar em alguém melhor que si mesmas?
- Você se sente assim. Não assuma que todos os outros se sintam da mesma maneira.
- Ahhhh é, você nunca teve inveja? Para de ser hipócrita.
- Eu?
- É.
- Idiota.
- Babaca.

...

Na verdade o que mais gosto no amor, são as cartas, as declarações, sabe?

...

Você ainda está aí?

...

Tudo bem, seu papo tava uma bosta hoje. Vou ficar aqui hoje refletindo....rsrsrsrs....Pera, posição de faquir. Isso, agora sim.

Uma musiquinha, já que não estou amando nem nada. Algumas comidinhas: frango assado, daquele de lamber os dedos. Muito sexual. Pernas roliças, pelinhos escuros, unhas sujas.

Ai, meu peito dói. Minhas pernas não se movem, sim, sim, posso ser. Posso ser tudo o que eu quiser, não preciso nem de interlocutor. Quem curte. Hoje minha pauta para o dia todo é solidão.

Amor? Amor. Tudo parece cada vez mais claro. Me ajuda a me livrar de mim, que a gente se ama. Sem amarras, sem egos, sem medos.

...

Você voltou? Acende a luz, por favor. Vem aqui, deita do meu lado. Isso, liga o seu som, acende suas velas.

Oi, não consigo te ouvir...Fala mais alto...Por...sim.

E então, amor era a sua respiração nos meus cabelos.

11 de dez. de 2009

Aula de javanês

Tinha na ponta da língua mais palavras que cabiam na língua portuguesa.
Segurava dentro do peito mais amor do lhe era permitido amar.
Guardava dentro do corpo, mais desejo do que conseguiria desfrutar.

A tarde corria mansa, silenciosa como deveriam ser todas as tardes, vazia como deviam ser todos os dias.
Uma chuva que não incomodava, um ruído constante que não dizia nada, um almoço com gosto de comida. Daquelas que só nos mantém em pé.

As perspectivas não eram sólidas, mas, e daí?
Até Cartola cantando parecia feliz demais.

Os cabelos em chamas, a cama fria, as paredes invisíveis.

Gostava até de ouvir os bêbados conversando na rua. encher o quarto de luzes não-estáticas.
Páginas em branco, paredes amarelas, unhas sem esmalte, céus cinzentos.

Prelúdio de verão.

10 de dez. de 2009

Seu silêncio

Às vezes, a paixão que sinto por você me enche o peito.
Espuma pela boca, escorre pelas pernas.
Amoleço os braços, apresso meu passo para te acompanhar.
Fazer teu caminho mais leve.

Digo, ai, me mordo de ciúmes.
E você:
ri
Aquela risada torcendo a cabeça pra trás, segurando a barriga
E deito meu peito no seu
E fico respirando sua respiração
Ai, terrível que sou.

Você diz - pare de rir
Mas não posso.
Não tenho mais para onde fugir.
Dentro de você, meu universo é todo o seu desejo.

8 de dez. de 2009

Meu Breton

Tinha olhos negros de bolas coloridas ofegantes - em busca de um sentido.
Mãos espalmadas, de dedos gordos e sangue quente.
Lábios azuis, quase negros como os dentes.
Pernas rechonçudas de varizes.

Ai, se pudesse fugir.
Mas dopava-se, e aquilo era muito triste.
Mas escondia-se atrás das frágeis costelas de ossos finos.

Dizia coisas sem sentido, frases sem efeito.
Pensava por conectivos - Preguiça;

Enquanto escrevia, dilacerava os pulsos
Arregaçava os punhos
Abria com força os olhos pregados da noite de insônia.

Desejo de carne
Com uma saliva espessa e persistente.

O coração dizia: contraia-se.
Não era ela que estava apaixonada, era, antes de todos, seu corpo.

Amor. Orgasmos quentes.
Faltava paixão ao mundo.

3 de dez. de 2009

O Senhor Puntila e uma epifania

Era uma chuva quente e abafada. Seus olhos marejados, os pés fixos no chão, as mãos enfiadas no meio das coxas.


- Meu Deus, como essas pessoas todas falavam.


Os vidros permaneciam embaçados, o barulho da água incessante, tudo parecia tão violento. Mas dentro desta sala, só podia ouvir todas aquelas vozes, quase que ofegantes. Quase pedia a eles:


- Mas respirem antes de falar.


***


E pensava nele, pensava em si mesma, seus planos, suas confissões, confusões, entregas, mentiras, tudo aquilo que formava a nuvem de poeira que cobria seus olhos e paralisava as mãos.

Sim, como uma tempestade de areia, um redemoinho de pó cinza, escuro e areia fina.


***

Voltou andando pela chuva, com o passo apressado, o coração na garganta, precisava correr, precisava saber, entender, comandar, organizar.


- Sem vulgarizar, por favor.


Mas podia ver, nos fracassos da outra, suas próprias sombras refletidas. Quase sentia-se bem, quase sentia-se completa.


***


Não conseguia prestar atenção no caminho, desviava dos buracos do asfalto alagado sem conseguir prestar atenção nos próprios pés. A sandália de cordas apertadas, os ossos magros vermelhos, as unhas sem cor.A bolsa pendurada em um só ombro.


Quase podia se lembrar daquela época que se andava a pé. Nas madrugadas, nas tardes frias, segurando as paredes, enxugando lágrimas, um fone de ouvido ligado na rádio, passos curtos, um eterno reencontro com si mesma.


Quase sorria. E a imagem de si mesma fugindo e, ao mesmo tempo, se encontrando, parecia tão real. Tão nítida. Clara como água fria escorrendo pelas pontas dos dedos. Os lábios quentes, os pés descalços.


Não, ele não acreditaria. Porque ele não entenderia. Afinal, será que tudo que havia restado era ela, assim, com os olhos baixos e alguma sofreguidão na voz?


Não, não. Não era ele, não era também a menina de olhos arregalados que a viu chegando molhada da chuva.

Não eram aquelas pessoas que não a olhavam nos olhos enquanto ela falava. Não eram os cargos, os nomes, as cobranças, as mentiras, todos os erros, todas as fugas. Não era aquele gosto do vazio na voz, nos olhos, a raiva incontida.


***


A chuva havia cessado. Só restava nas ruas o barulho, o pó, a mistura de concreto e poeira que invadia seus pés úmidos. O céu furta-cor que não denunciava o tempo dos próximos dias. Tudo permanecia permanentemente incerto.


Amor. Transbordando por todos seus poros.

27 de nov. de 2009

Nove é o numero da sorte?

E naquela noite ela havia sonhado com dentes. E não gostava de sonhar com dentes.

Era supersticiosa e muito frágil. Pelo menos ela gostava de se sentir assim.

Quando abriu os olhos de manhã, e via ele se vestindo, pensava em sua bunda. Quem foi que disse que só bunda de mulher podia ser bonita?

Mas mudou de ideia, isso parecia tão vulgar. E não queria coisas vulgares nessa manhã de sexta-feira, a imagem dos dentes quebrados em seu sonho ainda percorria sua espinha como um sopro quente.

Ela queria não pensar nisso, ou em coisa alguma....porém, era quase impossível evitar.

Em sua vida, seus hábitos, era quase impossível deixar de pensar em algo que não fosse, como dizer, não sabia mais se era positivo ou negativo.

Enquanto dirigia seu carro, quase sentia-se bem, mas ao olhar para os lados achava tudo tão entediante e sujo. Antigo, tudo tinha cara de ultrapassado: as cores dos carros, o escuro-esburacado do asfalto, os cigarros e os pontos de ônibus.

Neste dia, as coisas todas quase saiam do lugar, tudo caminhava naquela linha imaginária que ela inventou para separar um bom dia, de um mal dia.

Quando saiu de casa, o elevador estava parado em seu andar. Bom sinal. Quando entrou, ele subiu até o 12.

Quando chegou no estacionamento o carro estava aberto. Ótimo. Mas a chave estava no pneu traseiro, isso pode ser um pouco irritante.

Não havia trânsito e ela quase bateu o carro para observar um sujeito de grandes óculos de sol que pedia informações a um taxista. Porque raios isso deveria ser interessante?

Absolutamente. Não era interessante.

Mas ela olhava fixamente para o sujeito que gesticulava e parecia até meio baixo dentro de um carro tão imponente. Engraçado, porque homens de óculos de sol dirigindo carros pretos podem ficar subitamente interessantes? Aliás, tinha uma nova teoria para isso: ou estes homens ficam muito mais bonitos do que realmente são ou parecem completos idiotas.

Sempre pode ser uma coisa ou outra, às vezes, as duas juntas. É sempre assim... rá. engraçadona, sei, sei. Bom sinal, ainda tinha algum senso de humor. Muito bom.

Só mudou de ideia quando notou na calçada aqueles três adolescentes bebendo cerveja, na saída da faculdade. Por um milésimo de segundo pode se imaginar em uma mesa de bar de plástico, tomando cerveja em copo americano, com um cara feio e uma colega qualquer. Ficando bêbada, dando risadas aleatoriamente e no final uma conta pra rachar de R$8,50. Sentia-se tão moderna, quase uma mulher de verdade: podia pagar sua própria bebida e bebê-la como homem de verdade, sem vomitar, sem chorar ou falar de ex namorados. Sabe, existiam todas essas regras...

E então começou a pensar sobre todos os esteriótipos de cabiam dentro de si. Afinal, é possível gostar de Nina Simone e Kings of Leon? Lembrou na sequência sobre como detestava essas pessoas que gostavam de Coldplay. Tudo parecia bege. Nude.

O vento quente da rua invadia seu carro, a calça jeans que cobria as pernas pegando fogo. A imagem refletida no retrovisor. A moto estridente ao lado. A música que ela gostava-e-odiava tocando no rádio. O barulho que o painel do carro fazia.

Um estranho vento quente lhe subia a espinha, tinha algum motivo, hoje ela não seria 100% feliz porque....ahh, dentes. Claro. Efetivamente podia não ser um bom sinal.

cre-ti-na (isso porque não sabe separar idiota em sílabas)

Isso não tem nada a ver....dentes, já havia sonhado com dentes tantas vezes...até parece...uma vez, e faz tempo, ainda havia aquela nuvem do passado sobre sua cabeça, seus dentes explodiam na boca.

(respiração profunda) (estava aprendendo)

Cartola, porque aquela música era tão triste? E porque ele gostava de músicas tão tristes? Ela procurava em seus silêncios as peças que formavam o quebra-cabeças que era sua vida. Pois ele não gostava muito de falar, especialmente se este falar tivesse a ver com...ele..

E ela tentava se justificar, tentava ser especial, tentava alcançar seu afeto e sua aprovação. Então ele a abraçava, e ela suspirava em silêncio. E ele não podia notar, porque ela já tinha se acostumado a viver no escuro. E era assim que ela se sentia mais forte, ironicamente.

Mas as pessoas iam e vinham. e sua irritação crescia no mesmo ritmo do andar de pessoas do estabelecimento. E quando notou, estava irritada, falava alto pelos cantos, segurava a alça da bolsa com toda sua força, quase rangendo os dedinhos.

Foi quando a garçonete entrou. E ela trazia dois pratos de comida na mão. Um deles encostava em sua barriga e a pasta branca roçava seu avental azul, que escondia sua pele flácida e suada.

Mal conseguia comer. Você sabe, não se pode ter tudo na vida. Mas comeu. E mastigava lentamente o bolo úmido... e de repente descobriu porque engolia tão rápido, sentir aquela massa quase líquida se formando em sua boca...

Pediu uma água de côco que veio quente.

Colocou os óculos de sol no rosto (não, não eram aqueles modelos wayfare da moda). Voltou a passos lentos pela calçada, pensando na sapatilha que quase se abria na traseira: preciso arrumar, preciso colocar nesta minha lista interminável de coisas para fazer.

Tanto a se conquistar, tanto a se descobrir, tanto a se aceitar, tanto a se mudar.

Estava quase feliz de pensar que só faltavam poucas horas para o dia terminar, e ela poderia ler seu livro mais novo livro. Não poderia ser acaso, e pensar que ele entedia isso, a fazia imensamente feliz. (Solicito aos leitores que imaginem aqui alguns corações com glitter piscando, grandes e pequenos, naquela vibe MSN de adolescente)

Dentes, dentes, dentes. Uma grande borracha verde, bebês sorridentes, muita felicidade. Respiração profunda.

Havia decidido parar de fumar. De novo.