30 de nov. de 2010

quando o carnaval passar

Eu disse pra ele que tinha saudades, com bastante s no final.

Ixi, ele ficou bravo-disse: Chega!, mas disse pra mim que não tinha ficado bravo não:

— Faz bem o que quiser, não tenho nada pra te dizer não. Só não suma não, mande notícias, ligue vez em quando, quem sabe para um jantar ou sexo.
— Mas benzinho, eu amo você.
— Não quero mais ouvir isso.
— Mas eu não consigo ser amiga, quero ser namorada: assim, beijada, abraçada.

Ele não quer, não quer nada.
Sem mim, ele fica mais calmo. Mais calmo? Ai.
Agora você só quer ser só amigo.
Mas fechei os olhos e quase escapou a lágrima que tava guardada pra você lá dentro.
Eu vi meu ódio quase nascer.
Mas então: acho melhor a gente não se ver. Posso ser amiga não. Tenho mágoa da separação.

Ele diz: mas a gente não terminou por falta de amor.
Não?
Não, você concordou comigo que era melhor.
Uai, mas você disse: nem quero mais, não consigo me empolgar nesse amor não. Eu obedeci. E passei bem quietinha pela porta, como o Chico já tinha me ensinado a fazer há muitos anos.

Fui falar sobre o fim da gente junto, bom é relembrar quando a gente ainda era um.
Ele demora pra responder: então tá bom, apareça quando puder, se quiser.

Eu fiquei sozinha do outro lado da linha, olhando os carros passando na janela, pensando naquela rua da sua casa e da vida calma sem mim.
Quem sabe não é assim que se pareça um fim?

26 de nov. de 2010

Margens

Os textos mais fáceis são aqueles que não devem ser escritos.
As melhores histórias são aquelas que queremos esquecer.

O presente de aniversário que não veio.
O telefone de madrugada que não tocou.
Você chorando à noite sem saber se as lágrimas eram reais ou só existiram no sonho.

Talvez exista uma beleza nas coisas que você deseja e nunca se realizam
Talvez exista um abismo entre os planos que faz e a vida que se desenrola

E eu me pego, às vezes, lápis em punho. A voz embargada. o peito fechado.
Pronta para escrever.

às vezes, posso me sentir pronta para ser feliz.

10 de nov. de 2010

Poetinha vagabundo

Eu subi a ladeira que leva até a sua casa
Percorri os caminhos, ancorando-me nos muros de terrenos vazios
Eu sentia que deveria te contar a verdade

Você correu quando viu minha sombra circulando a lateral do cemitério da Vila. Jesus, você correu.

Eu segui pela calçada disforme, com minha garrafa de vinho, com os cabelos presos e as mãos sujas.

Eu te disse, lembra, do apartamento, com vista para o cemitério da Consolação? Eu gostaria de passar por lá qualquer dia, sabe? Acho que devem ter esses escritores enterrados lá, naqueles jazigos de casa, que parecem pequenas igrejas.

A moça me disse, não te contei?  Pô, você tem maior cara de quem era gótica na adolescência, curtia beber vodca entre os túmulos.

Pô, pensei, bem queria ter sido gótica. Mas tudo que consegui foi terminar uma vez, com um namoradinho skatista, recitando Vinicius de Moraes.

Ele ia na minha casa de mobilete (né?), ele era fofo, sabe? Loiro. coisa só.
Chegou em casa a tarde, um suor doce. Eu desci bêbada de Vinicius, livro debaixo do braço. De todos os poemas que havia decorado naquela tarde, o mais adequado parecia ser o soneto da separaçao.

Eu não sabia ser sutil naquela época, uma pena que só.

Eu carregava um grande sorriso de satisfação aquele dia. Aquele poema era mais do que algo bonito, era a tradução do que eu queria ser. Veja bem, a tradução do que eu queria ser, não dizer.

Mas eu disse, repeti palavra-por-palavra: sabe? tava lendo um poema hoje a tarde: De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma / E das bocas unidas fez-se a espuma / E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

Hoje eu não me lembro muito bem do poema, a ordem das estrofes, o sentido. Mas eu lembro do menino que era skatista. Nunca mais conheci alguém que tivesse uma mobilete.

Mas acho que foi aí que comecei a gostar dos loiros.

5 de nov. de 2010

O lobo e mar

Eu construi minha casa.
Você não pode entrar.

Eu cuspi em nosso caminho.
Você sequer pode notar.

Estamos cegos.
Engasgados das histórias que inventamos.

Sigo altiva.
Você não conseguirá me decifrar.

*

ô seu pedro, que peixe tem ai bom pra sashimi?
shashimi? Ahh, tem o piáu, o tucunaré, né? Qualqué um dos dois fica bão.
Vo levá o tucunaré.

*

Eu tirei uma foto na cachoeira.
Eu fiquei comendo um monte de acerola com a Ariane debaixo do pé.
Eu recolhi todo o lixo com o Oswaldo. O seu Oswaldo é porco.

*

Eu moro num apartamento de 50 metros quadrados.
Eu não beijo a boca de poodle nenhum, ainda.

*

Eu não tenho pudor. A moça me disse e pediu desculpas.
Eu queria beijar as mãos dela: ai, quem me dera você tivesse razão.

Eu tomei uma caipirinha de manjericão. Eu sonhei com você.
Eu podia ter beijado a foto do meu passaporte na hora que vi minha foto estampada na marca d'água.

*

Eu almocei assistindo um jogo de futebol.
Eu vi a chuva chegar.
Eu vi a tarde passar. Eu sorri.

*

Eu queria muito poder te salvar de você, baby.

*

Eu vejo a noite entrando na minha parede invisível. Oito horas, pisca nervoso o reloginho do meu desktop: noite de sexta de verão.
Penso em ficar com pena de mim e penso a tristeza de passar a noite sozinha.

Ai quero muito alguém e um jantar.

Pego o Terminal Pirituba e olho a noite úmida: pode ter trânsito, vai. To com pressa nem nada.

Desço na Faria Lima. Ai, se eu tivesse alguém e um jantar. Caminho até a Rebouças (por que esse cara caminha tão perto assim? melhor não olhar) Tenho nada não, né mesmo? Nem um filme bom no cinema, nem uma peça de teatro.

Parque D. Pedro. Desce a Consolação, cobrador? Penso no jantar, no vinho, na musica. E, de repente, tá tudo tão bem desenvolvido na minha cabeça, né? Vou desperdiçar isso não.

Vou até o Pão de Acucar da D. Veridiana, subo a Maria Antonia. Paro na banca de jornal, procuro os peitos da moça da capa de revista que parecem os meus. A revista com a capa do Paul. 15 contos. pô, vai se ferrar.

Saio pela calçada abarrotada de histórias. Ai, podia encontrar alguém bem ali pra me salvar da minha estupida ideia de levar minha sexta-feira sozinha adiante.
Desvio da fumaça do cigarro do menino, das amigas bebendo cerveja na escada do sesc, como tem bares novos que eu nunca conheci.

Quero comprar um vaso de flores, umas velas aromáticas. Fecho a fatura um gnocchi semi-pronto, um molho de tomate de microondas e um vinho de 22 contos.
É o prato da noite.

Vou logo ali matar a curiosidade de saber o que é um date comigo mesma. Vamos ver, se eu for muito legal, e desconfio que eu seja, te passo me telefone. Quem sabe você não me leva pra conhecer uns desses barzinhos novos da Maria Antonia?


*

Eu sinto muito por todos nós.

2 de nov. de 2010

Sobras

Acordei de sobressalto
Escrevi, de sobreaviso, meu nome na parede do teu quarto
Sobrexaltei tuas verdades
Cometi, sobretudo, a indelicadeza de te amar.

Sobrevivo.

8 de out. de 2010

Michel Torino

Fazia tanto tempo que eu não tomava uma taça de vinho sozinha.
Fazia tanto tempo que eu não me permitia ser tão cafona.

Eu queria sentir raiva. Mas eu não queria te perder.
Isso era um problema.

Con-tra-di-tó-rio
(E pensando bem, você tinha gostado do texto do Brecht)

Foda-se.

Deitada na cama, tomando vinho.
Não é um vinho barato, pelo menos não na minha concepção.
Para você, que não comprava nenhum que custasse menos de 35 reais, talvez fosse. Será que 35 era o limite? Nem me lembro mais.

Taí uma coisa boa do vinho: nada fica evidente demais.

Eu gostei muito de ter dividido com você o blog do Felipe. Eu sinto como se ele fosse tão meu amigo.
Estive até pensando: o Felipe, do blog, é amigo do meu outro amigo, Felipe. (assumindo que eu tenho dois amigos Felipes) (além de um ex-primeiro amor) (não era amor, sualoka)

Bem, eu gostei que você gostou. Foi legal, né?
Acho que nem existe coisa melhor no mundo que dividir uma coisa que você gosta e acha a cara de um amigo. Amei que você gostou.

E amigo, miha filha, ... Eu quero agarrar os meus pelas pernas.

Ás vezes eu minto. e sou dissimulada.

O Felipe, do blog, disse: às vezes você é vítima, às vezes filha da puta.
Meu, total entendo o que você diz: eu acho que eu não quero nada.

Eu não consigo nem mais assistir "That's 70's show". isso é triste.
tipo, o ultimo capitulo de Lost.

Eu posso encher meus olhos de lágrimas neste instante, se isso fizesse alguma diferença.

eu acho que vou ser muito feliz bebendo vinho por essa noite.

30 de set. de 2010

576M/10 Vila Clara

O silêncio não existe.
Eu pensava enquanto escovava meus dentes pela manhã.

— As mulheres só usam chapinha no salão.
Dizia o motorista enquanto dirigia o ônibus pelo caminho.
— Todas têm chapinha em casa agora.
Corrigia o cobrador, enquanto atravessava o corredor.

O silêncio realmente não existe.
Reiterei baixinho pra mim mesma, enquanto me concentrava na paisagem do Clube Pinheiros. Todos os dias, os mesmos muros altos orientando a calçada. É bonito de fazer chorar.

Precisa-se de garçonete. Lanchonete do Clube Pinheiros.
Então foi assim o restante do percurso: pensando em servir lanches e refrigerantes para velhinhas e crianças.

Coisa mais feliz que existe é levar comida pra criança que brincou a tarde inteira e nem consegue falar nada com nada e nem presta atenção na comida, olhando pra mãe e falando que nadô sozinho até o fundo e depois qué i no Parquinho. Vai, mãe, pô favor, (Mastiga primeiro, menino) só 15 minutinhos.

Mas a dor não existe.
As lágrimas secaram.
Passado e futuro são o presente.

Deitada na esteira, nenhum ruído pela rua ou pela sala. Só o zumbido contínuo do nada. O som da vida.

Eu gosto muito das árvores da Rebouças. Gosto da República do Líbano: a sonoridade do nome, as árvores do Ibirapuera, o trajeto contínuo, a pequena entrada na Canário para Moema. ibirápûéra.

Meu passado é meu presente, não separo mais o que era do que será.
Meu amor segue inabalado. Sem paredes, sem distâncias, sem precisar de palavras pra se expressar.

Deito no chão, braços estirados, céu azul que eu inventei.
Meu amor é maior que o nosso silêncio.

— Maior até do que cabe daqui até o terminal Pirituba, corrige o cobrador, que hoje não estava a fim de trabalhar.

13 de set. de 2010

Voa

— Ela virou passarinho.
Foi o que a mãe disse, pouco antes da morte da tia. Ela quase não comia, não falava, só sorria. Uma coisa tão linda. Não foi nunca ao hospital, morreu em casa dormindo.

Eu também queria virar passarinho antes de morrer. Era um desejo de uma vida inteira.

Mas naquele dia, eu nem cheguei a pensar nisso. Queria mesmo, pelo menos, era lembrar da tia. A mãe dizia que quando nasci ela ficou bastante tempo comigo, embalava minhas tardes enquanto a mãe estudava.

Mas eu não consegui me lembrar dela. Nem do seu rostinho sorridente ou de sua presença silenciosa pelos natais.

A mãe se ofendeu. Disse que era uma falta de consideração eu dizer isso. Disse que não tinha respeito pelos mortos, disse que eu tinha que rezar pela tia.

Naquela noite eu ajoelhei na cama. E pedi, com as mãos unidas na frente do rosto e de olhos fechados, que sonhasse com a tia. E no sonho, ela se lembrasse de mim e eu pudesse me lembrar dela. Como acontece com a vó que já tinha morrido.

Mas eu não consegui sonhar com ela. E, no dia seguinte, fiquei bem quieta enquanto tomava café pra mãe não desconfiar. Lavei minha louça, coloquei minha roupa de tristeza, os sapatos velhos e fui seguir a procissão no cemitério com os primos que lembravam da tia.

Ninguém chorava alto, só a vó que tava viva. Mas eu acho (e também nem falei pra ninguém) que a vó chorava mesmo era por causa do vô, que ainda não tinha voltado.

A mãe chorava também, mas a mãe chora por qualquer coisa. Ela acha a vida coisa bonita demais, por isso ela chora. Foi o que ela me disse quando vi ela com olhos encharcados na janela.

Eu não tinha marido pra voltar e também não lembrava não de tanta felicidade assim. Olhei a tia durinha no caixão, branquinha, com o nariz pequeno e, então, fiquei esperando um passarinho vir pousar na testa dela dando beijo. Isso não me fez chorar, nem me fez lembrar da tia, mas eu fiquei bem quietinha, segurando a mão da mãe e da vó, que se lembravam de coisas demais.

2 de set. de 2010

Snow Globe

A bailarina tinha pés finos e dedos compridos. Ela vestia-se de rosa e carmim.
Tinha meia-calça e saias de tule. Os cabelos presos por tranças.
Ela colecionava papéis de carta.

Bailarina cantava.
Bailarina comia com as pontas dos dedos.
Bailarina dançava em círculos.

Ela tinha olhos doces e um pompom no bumbum
A bailarina girava.

O dia dormiu. A bailarina, que sonhava existir, sorriu.

Os cabelos sedosos contornavam a cintura de moça. A meia já não servia mais / A boca molhada. Os pés marcados. As unhas cravadas. A pele ensanguentada. Ninguém vai notar.

A chuva de neve contornava seu corpo.

A bailarina girava. Bailarina chorava.

O sorriso permanecia. As mãos na cintura.

A bailarina girava. Bailarina dançava.

Os seios fora da camisa. As mãos permaneciam.

Na ponta dos pés. Na ponta dos pés.

Bailarina chorava. Bailarina dançava. Bailarina em silêncio.

Cabelos na cintura. Mãos seguras. Pezinhos fincados.

A bailarina chorava.

Eu me aproximei do vidro. Minha respiração. A bailarina que queria existir. Meu peito eu queria te dar. Minhas mãos emprestar, o suor enxugar.

Bailarina não chore. Bailarina-boneca. Bailarina sorria.

****

Eu levanto sua casinha e agito com toda minha força.

— Dance, dance, dance, sua putinha.

Eu sorrio. Você não pode existir.

4 de ago. de 2010

Deslumbre

— Eu gostava muito do seu banheiro. Do banheiro da sua casa. Gostava da solidão que transpirava dos azulejos frios durante nossos banhos longos.

— Por um tempo alimentei a ilusão de ter uma banheira. Mas a ideia de taças de champagne durante meus banhos de imersão me parecia vulgar, ao pensar nos copos de cristal que não tenho e nas banheiras antigas em que teria que me deitar. Isto é, se levasse este sonho adiante.

— Eu também gostava muito de manter trancada porta do meu quarto. Nas tardes infinitas de incensos, livros vomitados, um copo d'água, lapiseira 0.7, grafite HB. Chinelos, shorts, blusas de barriga-de-fora esperando.
Um eterno cruzar de pernas.

— Sabe, veja como é engraçado. Eu poderia me lembrar de muitas casas, mas me lembro especialmente desta. Na verdade, não era casa, lembro-me com carinho somente do meu quarto. As paredes eram tão minhas, a imobilidade dos móveis parecia tanto com a minha visão da vida. Talvez nem tenha durado tanto tempo assim.

— Talvez todas estas imagens tenham existido, de fato, somente durante uma única tarde. Talvez eu gostasse das expectativas positivas que a ideia daquela casa encerrava. Um grande jardim, uma banheira, o futuro em suspensão.

— A casa nunca mudou, as paredes só foram pintadas de branco durante uma única vez, após o conserto da infiltração de invadia a cozinha. A reforma durou meses.

— Ao entrar eu podia sentir o cheiro de óleo da moto que ficava guardada na sala de estar, os sacos de cimentos e cal pelo corredor cheirando a cachorro, a cortina que mantinha a cozinha abafada, os inúmeros papéis que eu escondia reiteradamente embaixo da travessa do café. O cheiro das caixas de papelão repletas de mais plástico e papel. O eterno estado de transição.

— Eu gostava muito de deitar-me no quintal, tomando sol sem filtro solar, ouvindo música alto, segurando o jornal desajeitada, observando o movimento das nuvens. Como era sedutor sentir-se triste naquela época. De tempos em tempos eu caminhava a passos curtos até o banheiro do fundo. Afastava as vassouras, a pilha de roupa para lavar e subia em cima do vaso para conferir a marca de biquíni recém-adquirida.

— Eu gostava também de me deitar na cama dos pais para assistir TV durante a tarde, apesar de não gostar da textura da colcha e dos abajures, que quase nunca funcionavam. Eu gostava do cheiro dos travesseiros.

— Depois de um tempo consegui retornar, até com certa frequencia, para meu antigo quarto. Mas algo me parecia tão estranho que nunca mais consegui dormir sozinha por lá. As estantes pareciam confusamente organizadas, as caixas vazias de CDs que eu nunca havia ouvido, as peças de roupas antigas, o computador que não funcionava, as gavetas que não se encaixavam mais, o mundo que eu deixei para trás me encarando silenciosamente ao longo da noite.

— Há muito tempo não passo mais por aquela rua. Eu nunca chequei se a árvore que meu pai plantou na calçada cresceu. Eu nunca conferi se os novos moradores ainda deixam a porta de vidro aberta, com a chave enterrada no vaso com as espadas de São Jorge. Aposto muito que eles têm um portão elétrico no lugar do portão que minha mãe pintou de branco.

— Talvez eles até tenham reformado o banheiro de azulejos cor de creme que fica no corredor, que nós nunca utilizamos.

28 de jul. de 2010

Sujeito oculto

Eu conseguia sentir muito amor, por isso pensei em escrever um longo poema.
Um denso poema de sálvia e saliva.
Queria falar da saudade do teu beijo, do cheiro dos ventos e das flores.
Queria falar das tristezas permanentes, das promessas indizíveis, de meus acordos tácitos.

Na verdade, falava de mim, não de você.

Na verdade, acho que nunca soube separar muito bem você de mim. O meu corpo do teu, tuas verdades na minha nova sombra. Eu inventava.

E dizia para você como se isso fosse algo muito peculiar. Bobagens. Alguma vez você acreditou? Sinto tanto por tê-lo envolvido nas sutilezas da minha fragilidade.

Eu não posso te dizer com precisão se eu realmente disse a verdade em algum momento, exceto nos momentos em que te amei. Eu nunca precisei dizê-lo, eu pudia sentir como todos os meus sentidos o meu amor por você.

Todavia, além disso, não sei se soube,

Talvez tenha sido este o problema. Talvez tenha sido exatamente este o ponto em que me perdi. Eu não transpareci. Eu esmoeci. Eu mantive-me resoluta. Sofrendo uma dor de cal. Vivendo tanto concreto. eu não soube.

Por um instante, penso em pedir desculpas, para logo perceber: foi este o meu erro.

Preciso me amar tão apavoradamente como te amo.

E isso soa quase tão artificial. Tão eu quero engolir a frase de volta para que não seja verdade.

Eu não quero mais arrancar pedaços da minha pele. Eu não quero me rasgar pelo avesso. Eu passo incólume por cercas-arame farpado.

Eu te amo como uma extensão do meu desejo por mim mesma, que resplandece tão lentamente que mal posso dizer que, de fato, posso vê-lo.

só sinto, e isso basta.

2 de jul. de 2010

Para Caio Fernando. sua criança.seu velho.

Ao lado da minha mesa existe uma grande janela. Vou contar: é uma parede invisível.

E existe também esse vidro.

Durante o dia, quando a luz da manhã escorre pelo lado interno, eu sinto o cheiro quente do vento que desliza ao lado de fora.

Eu, aqui de dentro, fico sempre em busca de um passarinho, mas na maior parte do tempo só vejo aviões.

Eu olho muito por esse vidro durante o dia. Eu acho ele muito bonito. Acho bonita também a cidade que ele traduz.

É uma cidade distante, silenciosa, cheia de pequenas pessoinhas. Às vezes com pequenos coraçõezinhos, às vezes não.
Eu vejo muitos carros, e eles parecem tão lentos que eu até bocejo. Mas eu gosto desses carros. Daqui eu não vejo sua fumaça. Daqui, quase nada é real.

Tudo é explicado para mim pelo vidro que não fala.

Eu gosto de me divertir enconstando no vidro quando ninguém vê. Eu encosto de costas e,—, as mãos, os cabelos, com muita sorte o rosto.

Eu tenho vontade de abraçar essa cidade escondida debaixo do vento.

Para ser honesta, acho mais poético (pelo perdão de mais um clichê) quando chove, porque a gente não tem obrigação de ser feliz, fazer algo muito genial ou achar a vida muito linda nesses dias.

— Apesar de considerar o vidro que me conta sobre a cidade muito gracioso —

Imagino, a chuva, como um corte na mecanicidade da cidade. Um céu cinzento me parece uma sombra acima de todos, um reflexo pelo avesso das pessoinhas com pequenos e grandes corações.

Afinal, ainda não encontrei alguém com uma pequena nuvem somente sobre a sua própria cabeça. Fato que seria até bem conveniente, pensando um pouquinho.

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Agora não é mais dia. Agora já é noite lá fora, mas não aqui dentro.

Estou protegida pelo vidro. Lá fora é breu.

As luzes dos carros são brilhantes mas, através do vidro, elas são só lanterninhas cabeças-de-fósforo.

E durante a noite me vejo refletida no vidro. per-fei-ta-men-te.

É uma sensação quase estranha.

Para onde quer que eu olhe, lá estão meus olhinhos soltando gritinhos de sedução, tentando me abraçar.
Os peitinhos ficam mais cheios, os lábios mais juntinhos. Porque, a minha imagem que existe no espelho, acha tudo isso muito sedutor.

A que existe presa dentro do vidro é uma pessoinha que vive só do próprio reflexo. E ela sempre olha para os lados, pensando se alguma outra sombra do espelho irá lhe sorrir de volta um sorriso refletido de vidro.

Ela não se cansa.

Eu já tentei avisá-la. — Benzinho, você é feita de vento e breu da noite. O calor da tua mão, não é do teu coraçãozinho, é resquício do dia que ainda está impregnado no vidro-que-eu-gosto. Você é uma folhinha de papel.

Mas essa imagem silenciosa de vidro, não pode me dizer nada. Sua voz é fraquinha, suas mãos não foram feitas de pegar.

Eu queria abraçá-la. Quem sabe, sentá-la em meu colo e embalar a criança e o velho escondida em sua imagem de ar.

S'ao muitos os desejos de espuma.

23 de jun. de 2010

Entardecer

Eu seguia as pistas do teu amor pelas esquinas.

Fechava os olhos e tentava capturar, em minhas mãos molhadas, o aroma do teu sexo.

Eu negava minha condição.

Seguia inebriada pelas ruas, caminhando a passos curtos, buscando as falhas do asfalto e considerando muito cafona a arquitetura das árvores.

A logística dos pássaros, os movimentos da minha sombra.

Tentava, recorrentemente, preencher o vazio dos meus seios com a espuma da lembrança da tua voz, que escorria lenta, fria, improvável.

Todas as tecnologias me pareciam antiquadas e, vez ou outra, me pegava procurando por cartões telefônicos na carteira para ligar na sua rua.

Eu conseguia me imaginar em uma grande calçada, de uma grande avenida, sozinha, com o coração em paralisado ao bater de cada ponto que diminuia.

Até hoje considero este fato um grande mistério.

Eu nunca consegui, e hoje tenho quase certeza, exprimir em palavras o que aquela sensação de abandono significou.

Tampouco, consegui diminuir sua intensidade a cada vez que retornava. Sempre me pareceu, e isso é naturalmente estético, como um grande bicho disforme e sem cor que corroía minha carne peito adentro.

Já não importava muito por qual caminho eu deveria seguir, ou qual passo deveria ser o próximo.

Ainda, manter a respiração segundo após segundo, tornava todo o processo dilacerante, lento, sem vida.

A possibilidade, ainda que remota, de poder resgatá-lo novamente, era o combustível de meu andar.

A sensação de vida, que persistia no canto da minha boca, só se tornava real ao pensar que ainda haveria um momento de redenção.

Eu não sabia escrever o fim.

13 de jun. de 2010

por falar em paixão, em razão de viver.

Hoje gostaria de contar uma história de amor pra você dormir. Queria te contar meus segredos afundada em seus lencóis. Sentir seus cachinhos entrelacados em meus dedos frios. Você esquentando a ponta do meu nariz. Dividindo a melhor parte do seu jantar. Durante tantas noites quero segurar na tua mao e sentir seus pés procurando o meu. Olhares de suor enquanto você segura meus peitos. Falar baixinho por suspiros e saber seu timing. exatamente como você sabe o meu. Encaixar meu quadril em seus bracos, beijinhos no pescoco.
Rir de sua mao em meu braco, das suas caretas, das coisas que você inventava pra me ver sorrir. Assistir todas as séries de TV do mundo, passar madrugadas inteiras ao lado de sua cadeira, aprender todos os jogos de tabuleiro, cantar sobre feras desgovernadas, esfregar suas costas, baguncar seu cabelo que é todo lindo-lindo-sarará, roubar suas cobertas a noite, esperar você fumar seus cigarros, ouvir você me contando sobre as últimas novidades no modo, me enchendo de orgulho das suas últimas criacoes no 3d, ficar sentindo o cheiro do seu peito e rindo de doer a barriga até você parar de me fazer cócegas.
Mensagens pra desejar bom dia, relembrar mil vezes a noite que nos conhecemos, trocar olhares e piadas que só nos dois entendemos. Tomar seus cafés. xicaras de chá de madrugada. Cuidado ao falar, atencão a sua respiracao, sorrir ao te ver levantar, dormir enroscada no teu amor. O meu amor por você. Namorado. graca. Toda tua.

Feliz Dia dos Namorados.

10 de mai. de 2010

Tradução

Eu queria te dizer do meu amor sem pausas.
Da falta latente no meu peito, que só o seu olhar aquece.
Do silêncio entre as minhas respirações, que você decifra-e-devora.

Os seus olhos brilhantes nas minhas manhãs.
Seus cabelos perdidos nas minhas blusas.
Seu jeito delicado de pedir desculpas respirando entre meus dedos.

Fiquei te olhando sob seus ombros, ouvindo você lamuriando baixinho enquanto suspirava a cada curva de todas estradas.

Pausei minha respiração por alguns instantes ao sentir suas hesitações. A fala ritmada. O vento que entrava pelas janelas, o cheiro de suas mãos no meu colo. Meus dedos tocando levemente a pele do seu pescoço.

O meu desejo resplandecia. Suspirava todas as pequenas alegrias diárias que só o teu desejo maciço e permanente (sic) permite.

Eu pude, finalmente, sonhar.

23 de abr. de 2010

swallow

E então eu dizia: saudade.
Com toda a minha força peito adentro
Garganta afora, conduzo a flora.

Indizível, sensível, cheia de dores de sabores passados
E delírios visíveis.

Enchia muitos corpos de beijos e suspiros repletos de meias-verdades na luas que nunca se aqueciam.

Saudade das páginas cinzas, dos cinzeiros sempre limpos, dos sorrisos.

Meu bem, volte. A rua incedeia lá fora, você nem imagina.
Não, graça, a gente incedeia é por dentro. Pelas ruas nós flutuamos.

Mas volte, diga que me ama baixinho.
Não amo.

Repare então a sua volta, você consegue sentir?
Só o som das minha própria respiração paralisada. E todo esse processo garganta-adentro-garganta-afora do peito de engolir o impulso irrefreável de ser o que é mais conveniente.

Precisão.

15 de mar. de 2010

Insensatez

Nem que eu tivesse todos os braços do mundo, seria suficiente para te abraçar, nem que eu tivesse todas as dores do mundo você poderia me ajudar.

Meus abraços são mais longos que os seus.

Então eu te disse, à meia luz, do meu amor sem pudores, sem remorsos, afogada em tantas lágrimas que eu poderia chorar, porque meu amor é bonito demais.
Mas você achou aquilo tudo muito triste e chorou também, porque você não sabia me amar.

Então você permaneceu. E ficou me olhando com seus antigos olhos facetados e analisando todos os meus vícios passados, meus destemperos. Medindo nossos espaços vazios.

E assim se passou nossa noite, cheia de abraços partidos, acuados, lambendo nossas feridas.

25 de fev. de 2010

Watch out

Ele queria uma mulher que fosse gostosa. Queria um desejo latente, que fosse ao mesmo tempo transgressor, ao mesmo tempo dor.
Na verdade, ele não sabia muito sobre as idiossincracias de relacionamentos.
Além de feio, e coxo, repetia o tempo todo que sabia escrever. Pior, acreditava que isto podia ser argumento de conquista barata.
O fato de ser bêbado pouco importava a essa altura, doses homeopáticas de Viagra e isso era até uma qualidade.

Ele me fazia arder os dentes.
Afinal, competir com mulheres parecia bem óbvio, mas com homens? Algo não parecia certo.
O perfume de chá de frutas secas invadia seus pensamentos. Não, ele não cheivara a frutas frescas.

Parecia cada vez mais difícil me tornar essa mulher gostosa que ele buscava.
Resolvi fazer clareamento nos dentes, alisamento nos cabelos. Estorei a fatura do cartão de crédito comprando roupas em busca de seu desejo fálico.
Me perfumava com gotas de almíscar, lambuzava os cabelos com serum para cabelos secos. Lixava as unhas e tirava as próprias cutículas em casa. Afinal, porque pagaria por isso?
Até decidi correr, pre-ci-sa-va emagrecer.

Saia todos os dias de manhã sentindo muitas felicidades ao mesmo tempo. Eu queria ser muito o amor da vida dele. Naquela época, meus únicos vícios eram os cigarros de filtro branco.

Mas isso foi antes.

Eu o conhecia de um tempo em que os Carnavais não eram como os de hoje. Eram cheios de máscaras, desejos, álcool, salões cheirando a éter.
Ele dormia no meio da pista.
Durante uns dois dias, eu o encontrei dormindo no meio da pista. E me apaixonei por aquele sujeito semi-morto, semi-deus deitado em toda sua delicadeza no meio do salão.
E o sol era uma cascata laranja em tons neóns. Naquela época eu ainda não entendia a psicodelia. Eu nunca entendi.

Corria pelas ruas insuspeita, inflamada de ego por todos os poros. Blasfemando minha imoralidade, verborrágica charlatonice com os dentes cerrados.
As pessoas suspiravam pavor e seus discursos sempre atingiam meu peito em cheio.

Eu não conseguia mais encontrá-lo. Sua imagem torpe, vil, promíscua e baixa.

Desfilei meu veneno ao redor de tantas mesas de sinuca em madrugadas frias. Sofria dores indizíveis e muito profundas. Não precisava compartilhar minhas alucinações.
Por isso, todas as noites tomava uma garrafa de vinho barato e nunca dormia.

O que ele não entendia, quando o reencontrei com esta nova fantasia (um pouco mais gordo, um pouco mais vazio), é que aquelas cenas de olhos lacrimenjantes, cheirando a álcool e com um cigarro em punho, eu já tinha visto.

Agora que eu passava meus carnavais vestida de branco, pedindo bênçãos e acendendo velas, seus convites pérfidos, suas dissimulações me pareciam tão amadoras.

Eu precisava competir. Ele não sabia. Eu nunca diria, apesar da minha nova máscara me cair tão bem todos os dias.

Humf (fazendo biquinho de leão) Muito bravo.

10 de fev. de 2010

Presente

Eram olhos brilhantes de morcego, de quem gosta mais da noite do que o dia.
Lábios semi-cerrados que nunca se fechavam e muito silêncio em suas pausas.

Sobrevivia com os dedos lânguidos e uma respiração sempre suspensa em busca do inefável.

Dizia meias verdades em noites claras e ameaçava a utopia do mundo com seus cabelos quase antigos.

Nos acordes de seu violão cantava os amores de todos os dias.

Não tinha suspiros, tampouco calafrios. desejos
Epifanias inconscientes.

Sabia os momentos em que deveria parar, sabia os momentos em que deveria partir.

Tinha um universo inteiro a desvendar e pouca pressa no passo.
Não gostava dos mistérios que envolviam suas noites, da objetividade que pautava suas manhãs.

Suas pequenas movimentações, a delicadeza de seu toque
O vigor de sua entrega, a paixão em sua respiração, o desejo em sua saliva.

As palavras escorriam pelo vento musicalizadas, repletas de amores não escritos.
O ritmo de suas descobertas cabia em seu peito.
A profundidade de sua rotina. Os sorrisos de tantas saudades.

E como era lindo ao acordar.
Amor.

9 de fev. de 2010

sublime

Um suspiro frente ao espelho e, de repente, o desafio de ser sincera surgia como as notas da tarde que se abria.
Uma entrega discreta, um sorriso de canto de lábios.

29 de jan. de 2010

A incrível história do menino que não gostava de carinho VOL.1

Bem, pra começo de conversa, ele não era menino. Digo, estava mais para adulto, um jovem.

Mas a palavra jovem parecia tão cafona...algo como falar noivo, ou esposa, ele e eu pensávamos.


— Ai, então, sábado eu vou no chá de bebê da prima da minha esposa.
— Ahn?

É, ele não gostava dessas coisas antiquadas. Não gostava do que era comum, do que era imposto.

— Você precisa estudar, se formar, trabalhar, se casar, ter filhos, ir à missa aos domingos. Você pre-ci-sa.

Ele nunca faria nada disso. Quer dizer, até faria. Mas só se essa ideia viesse dele mesmo. O que não era o caso no momento.

Neste instante, o que ele queria era...

Uhmmm...
Estranho....
Sabe que eu não sei?

Porque assim, outra coisa que você deve saber sobre ele: ele fala pouco.

Fala pouco sobre ele mesmo, que isto fique bem claro. Porque ele é até falante, sabe?

Às vezes, hihihi, vou te contar: ele acorda no meio da noite assim todo agitadinho, e fala, fala, fala. Conta todas essas histórias e dá risadas e fuma cigarros. Ou, às vezes, ele nem quer dormir.
Assim: ele tá quase dormindo. Olhinhos semi-cerrados, de bermudas xadrez, já fumou um cigarro, já entrou na internet, já tomou água, já foi ao banheiro, já escovou os den..zzzzzz

Er-ra-do.

Ele não dorme. E fica só falando, falando sem parar, e todo cheio de beijos e abraços e muitas historinhas divertidas.
Preciso te dizer: é tãaao lindo.

Mas, aí, né, ele não fala dele.

Ahhh, e isso até me lembrou outra coisa. Outro dia desses eu estava lá. E tava semi-de-costas-para-ele, eu estava deitada na cama e quando olhei para trás, ele tinha aqueles olhinhos distantes, multicoloridos, fracionados tão quietinhos, que eu disse:

— O que há?

E ele me responde coisas como, "sempre, mãe, não, se quisesse, saco".

Então eu olho com cara-de-peixe-morto, que eu uso sempre quando fico sem graça e digo: Ui.

***

Mas aí vem a parte do carinho, vou te contar:

Sabe, ele gosta de gatinhos, e gatinhos, você sabe, né? Não gostam muito de carinho. Quer dizer, só gostam quando tem vontade, isto é, de um jeito muito específico.

E, esperta que sou, pensei: gatinhos...

Aí, né, descobri que gatinhos gostam de carinho na barbicha. E eu, veja só você, adoro carinho em barbicha de gatinho.
Então, pensei: que gostoso, Até dá pra ron-ro-nar.

Bem, ele disse: "Não. Quer dizer, de vez em quando, bem de vez em quando".

Aí, teoricamente a história termina por aqui.

Pluft!

Nisso, minha irmã entra. E diz, coçando a nuca com a ponta dos dedos:

— Mas que palhaçada é essa?

— Que palhaçada digo eu. O que você tá fazendo aqui? Esse texto não é seu não ô. Volta lá pro seu dragão!

— Quer dizer, o seu dragão...

— Uhmmm... é, tá, vai, volta lá. Este texto nem é seu. É meu e do terriv...

— Por isso mesmo eu vim, onde já se viu terminar texto pro terriv.... assim? Que coisa bizarra. "Teoricamente acaba assim" hahahahahaha

E ela ri gargalhadas de segurar a barriga e torce os dedinhos. E juro, até vi ela dando tapinhas na mesa, apesar dela negar veementemente que tenha feito algo assim. Tá bom...

Pluft!

Acordo deitada no chão frio da minha sala. Paredes amarelas, teto branco. Pés gelados.
Dou uma giradinha, encosto as buchechas no piso, sinto os fios caindo pelos olhos, testas, orelhas.

Levanto-me, esfrego os olhos, saio andando na ponta dos pés. Te encontro na esquina do corredor. Um beijo e um sorriso.

Porque, mesmo incrível, mesmo menino, assim eu sei que ele gosta.