30 de set. de 2010

576M/10 Vila Clara

O silêncio não existe.
Eu pensava enquanto escovava meus dentes pela manhã.

— As mulheres só usam chapinha no salão.
Dizia o motorista enquanto dirigia o ônibus pelo caminho.
— Todas têm chapinha em casa agora.
Corrigia o cobrador, enquanto atravessava o corredor.

O silêncio realmente não existe.
Reiterei baixinho pra mim mesma, enquanto me concentrava na paisagem do Clube Pinheiros. Todos os dias, os mesmos muros altos orientando a calçada. É bonito de fazer chorar.

Precisa-se de garçonete. Lanchonete do Clube Pinheiros.
Então foi assim o restante do percurso: pensando em servir lanches e refrigerantes para velhinhas e crianças.

Coisa mais feliz que existe é levar comida pra criança que brincou a tarde inteira e nem consegue falar nada com nada e nem presta atenção na comida, olhando pra mãe e falando que nadô sozinho até o fundo e depois qué i no Parquinho. Vai, mãe, pô favor, (Mastiga primeiro, menino) só 15 minutinhos.

Mas a dor não existe.
As lágrimas secaram.
Passado e futuro são o presente.

Deitada na esteira, nenhum ruído pela rua ou pela sala. Só o zumbido contínuo do nada. O som da vida.

Eu gosto muito das árvores da Rebouças. Gosto da República do Líbano: a sonoridade do nome, as árvores do Ibirapuera, o trajeto contínuo, a pequena entrada na Canário para Moema. ibirápûéra.

Meu passado é meu presente, não separo mais o que era do que será.
Meu amor segue inabalado. Sem paredes, sem distâncias, sem precisar de palavras pra se expressar.

Deito no chão, braços estirados, céu azul que eu inventei.
Meu amor é maior que o nosso silêncio.

— Maior até do que cabe daqui até o terminal Pirituba, corrige o cobrador, que hoje não estava a fim de trabalhar.

2 comentários:

jurisdrops disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jurisdrops disse...

Silêncio que não há, preenchido por imagens e palavras lindas. Acrescento apenas que neste trajeto sejam fotografadas com os olhos as árvores de flores roxas ao lado do lago no Ibirapuera. Flores nos galhos, flores no chão como um tapete de sonhos.
Beijo