2 de set. de 2010

Snow Globe

A bailarina tinha pés finos e dedos compridos. Ela vestia-se de rosa e carmim.
Tinha meia-calça e saias de tule. Os cabelos presos por tranças.
Ela colecionava papéis de carta.

Bailarina cantava.
Bailarina comia com as pontas dos dedos.
Bailarina dançava em círculos.

Ela tinha olhos doces e um pompom no bumbum
A bailarina girava.

O dia dormiu. A bailarina, que sonhava existir, sorriu.

Os cabelos sedosos contornavam a cintura de moça. A meia já não servia mais / A boca molhada. Os pés marcados. As unhas cravadas. A pele ensanguentada. Ninguém vai notar.

A chuva de neve contornava seu corpo.

A bailarina girava. Bailarina chorava.

O sorriso permanecia. As mãos na cintura.

A bailarina girava. Bailarina dançava.

Os seios fora da camisa. As mãos permaneciam.

Na ponta dos pés. Na ponta dos pés.

Bailarina chorava. Bailarina dançava. Bailarina em silêncio.

Cabelos na cintura. Mãos seguras. Pezinhos fincados.

A bailarina chorava.

Eu me aproximei do vidro. Minha respiração. A bailarina que queria existir. Meu peito eu queria te dar. Minhas mãos emprestar, o suor enxugar.

Bailarina não chore. Bailarina-boneca. Bailarina sorria.

****

Eu levanto sua casinha e agito com toda minha força.

— Dance, dance, dance, sua putinha.

Eu sorrio. Você não pode existir.

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