Fechava os olhos e tentava capturar, em minhas mãos molhadas, o aroma do teu sexo.
Eu negava minha condição.
Seguia inebriada pelas ruas, caminhando a passos curtos, buscando as falhas do asfalto e considerando muito cafona a arquitetura das árvores.
A logística dos pássaros, os movimentos da minha sombra.
Tentava, recorrentemente, preencher o vazio dos meus seios com a espuma da lembrança da tua voz, que escorria lenta, fria, improvável.
Todas as tecnologias me pareciam antiquadas e, vez ou outra, me pegava procurando por cartões telefônicos na carteira para ligar na sua rua.
Eu conseguia me imaginar em uma grande calçada, de uma grande avenida, sozinha, com o coração em paralisado ao bater de cada ponto que diminuia.
Até hoje considero este fato um grande mistério.
Eu nunca consegui, e hoje tenho quase certeza, exprimir em palavras o que aquela sensação de abandono significou.
Tampouco, consegui diminuir sua intensidade a cada vez que retornava. Sempre me pareceu, e isso é naturalmente estético, como um grande bicho disforme e sem cor que corroía minha carne peito adentro.
Já não importava muito por qual caminho eu deveria seguir, ou qual passo deveria ser o próximo.
Ainda, manter a respiração segundo após segundo, tornava todo o processo dilacerante, lento, sem vida.
A possibilidade, ainda que remota, de poder resgatá-lo novamente, era o combustível de meu andar.
A sensação de vida, que persistia no canto da minha boca, só se tornava real ao pensar que ainda haveria um momento de redenção.
Eu não sabia escrever o fim.