23 de jun. de 2010

Entardecer

Eu seguia as pistas do teu amor pelas esquinas.

Fechava os olhos e tentava capturar, em minhas mãos molhadas, o aroma do teu sexo.

Eu negava minha condição.

Seguia inebriada pelas ruas, caminhando a passos curtos, buscando as falhas do asfalto e considerando muito cafona a arquitetura das árvores.

A logística dos pássaros, os movimentos da minha sombra.

Tentava, recorrentemente, preencher o vazio dos meus seios com a espuma da lembrança da tua voz, que escorria lenta, fria, improvável.

Todas as tecnologias me pareciam antiquadas e, vez ou outra, me pegava procurando por cartões telefônicos na carteira para ligar na sua rua.

Eu conseguia me imaginar em uma grande calçada, de uma grande avenida, sozinha, com o coração em paralisado ao bater de cada ponto que diminuia.

Até hoje considero este fato um grande mistério.

Eu nunca consegui, e hoje tenho quase certeza, exprimir em palavras o que aquela sensação de abandono significou.

Tampouco, consegui diminuir sua intensidade a cada vez que retornava. Sempre me pareceu, e isso é naturalmente estético, como um grande bicho disforme e sem cor que corroía minha carne peito adentro.

Já não importava muito por qual caminho eu deveria seguir, ou qual passo deveria ser o próximo.

Ainda, manter a respiração segundo após segundo, tornava todo o processo dilacerante, lento, sem vida.

A possibilidade, ainda que remota, de poder resgatá-lo novamente, era o combustível de meu andar.

A sensação de vida, que persistia no canto da minha boca, só se tornava real ao pensar que ainda haveria um momento de redenção.

Eu não sabia escrever o fim.

4 comentários:

*Livia* disse...

Ah, o amor, a paixão....traz sempre o melhor de nós!! =D

Bjocas

Anônimo disse...

sempre espero com uma certa agonia pra te ler , a verdade é que eu amo sentir isso , parabens
voce consegue como ninguem , me fazer sentir tudo que escreve , ate bem depois de algum tempo ainda me lembro do que leio aqui
bjs

Anônimo disse...

aiiiiiiiiii que tudooo adorei isso
bjs e caraca como vc escreve bem

Anônimo disse...

fantastico nao tem outro nome !