7 de fev. de 2011

um.

Tudo bom, mãe? Aqui tá tudo certo, graças a Deus. Fui no hospital hoje visitar o tio, ele tá magro, amarelo cor de sabão, mas os médicos tão confiantes, né? O noivo da minha amiga teve a mesma coisa e hoje tá ó. Vai casar e tudo mais.

Eu levei chocolate e um cartão.  Achei que você ia gostar. Se vier me visitar a gente vai lá tomar café e comer chocolate, não no hospital, no shopping. Você sabe, programa de paulista é ir no shopping. Olha eu cheia de clichê, mãe.

Sabe eu falei com o pai hoje também. Eu fiquei chateada, né?  Eu falei pra ele tudo isso que eu acho e você já sabe: a vida não é só sofrimento não. Mas papai não entende, você também não. E eu fico chateada porque eu queria era ver vocês de marajá, top top andando por aí de iate, de praia em praia. Sem stress, sem problemas mil na cabeça. Mas papai fica todo encolhido, acha que é desmerecimento meu. Você sabe, né mãe..

Eu tenho pensado, sabe mamãe, em mudar de casa, estudar na França, trabalhar com comunidades indigenas no Pará, casar e ter filhos,virar celebridade, adotar um gatinho.

(Mas calma, pode ficar tranquila, eu já pensei em tudo: depois que eu tiver minha casa, meu gatinho vai chamar Sushi e, quando você vier me visitar, eu prendo ele em jaulinhas de gatinhos, sabe? Você nem vai conhecer ele se não quiser. E quando eu for te visitar ele não vai junto, porque gatos não gostam muito de mudanças, viagens e, especialmente, cachorros.)

Aqui tá sol e muito calor, mas eu tenho um ventilador. Eu to ouvindo no rádio um cara que se chama Bevendra Banhart. Eu acendi um incenso de flor de laranjeira e fiz um chá de morango, hibiscus e gengibre. Qual será que foi o caminho que nos escolheu? A vida pode ser boa, não pode, mãe?