19 de out. de 2009

SEIXAS, Raul

Hoje vieram me perguntar:
Mas o que é mesmo Medza Matisse?

Pensei: oras, cada um sabe qual é sua medza matisse, e quase diria, impossível, my Darling.

O problema é que não sabia mais o aquilo significava para mim. E se, de repente, eu tivesse mudado tanto, que tivesse me tornado essa pessoa alheia a minha própria pessoa?

Minha cabeça doía. Quase não conseguia abrir meus olhos. Líquidos. Quase não pude descerrar os lábios e arquear as sobrancelhas.

Ahhh, seu eu soubesse...Ahh, seu eu pudesse...

Mas, então, o puxei pelo braço. E lembrei daquele sonho de amores que um dia tive e a tentação de morder suas orelhas e mastigar seus cabelos loiros, loirinhos, me parecia inevitável.

Aí pensava quase em voz alta: dance para mim. Círculos redondos em volta da minha cintura até eu enjoar. Então você segura meus braços e a gente inventa essa dança desconexa, sem ritmo, de passos-firmes-vizinhos-não-reclamem.

E a gente se ama, se joga, se entrega, meio bicho de Vinícius, meio tristeza de Cartola, meio sujo de Chico. Reinventando nossa música, criando novas partituras, pintando de lápis e suor essa história, meio tesão inventado, mais exagerado que Cazuza e menos clichê (...),

É quase um suspiro de desculpas, quase uma brisa-sinfonia de gemidos ofegantes e muito cheios de você. Por dentro, para dentro, engolido pelo avesso, minha carne e entranhas descompassadas ao ritmo da sua respiração.

E eu te beijo como pedido de salvação, o ar me sufoca e eu tiro meu fôlego dos teus desejos.