19 de jul. de 2011

chantal

Olha eu te digo, eu peço pra Deus, pra Deus, sabe como que é?
Que me mande um homem desse.

Assim lindo,
devagar,
dormindo atravessado no meio das minhas pernas.

Ai, morro. Vida fácil não. Medo de tanta coisa.

Queria era só deixar.  

Ai tristeza,
coisa linda é estar apaixonado.
Coisa linda é ficar pensando em você,
 que eu nem sei por onde anda.

Ai, a saudade. Sabe nada do tanto que eu poderia te querer.
Ainda, se pelo menos, eu  pudesse morrer de amores por você.

13 de jul. de 2011

A janela de dentro

Eliana, minha filha, sai dessa janela.
Entra pra casa, vai pegar friagem. Tá nem de meia. Coisa feia. Pula já pra cá. Quero nem saber se é tarde, se é dia.

***

Minha mãe repetia sua ladainha. Minha mãe sempre dizia: o amor é coisa tão tola. Olha lá seu pai, seu avô, sua tia, sua prima. Nessa família, ninguém merece amar. Ninguém sabe se doar.

Como um mantra inconsciente, eu repetia a oração de dor da minha mãe.

***

Quando conheci o Leandro ele era tolo, pelo menos eu achei, sabe, à primeira vista. Ele tinha uns olhos esbugalhados um tanto. A boca flácida, os dedos finos. Uma beleza escondida, sei lá.

Eu via ele todo dia.
Porteiro do prédio. Comia sempre uma quentinha. Chegava às sete, saia às três.
Tinha dois pares de calca azul, um casaco marrom, um sapato social, um tênis de ginástica.

Nunca saia da cabine para ajudar as senhoras de bochechas caídas, cigarro numa mão, coleirinha de cachorro na outra, sacola com ração e revistas de novela.

Eu bem gostava de ficar olhando elas passar, perto dos taxistas, ou na entrada da loja. Desfilando suas grandes calçolas de leite de rosas e xixi.

***

No primeiro dia o Leandro comprou um chocolate. No segundo, um biscoito de polvilho (acho que não devia ter tomado café), no terceiro, pedi para ele esperar enquanto terminava meu cigarro. Era um completo idiota.

Perguntei seu nome, o que ele fazia.

Passei a ir mais na portaria do predio. Um dia deixava uma bananinha, no outro uma barra de chocolate, no outro um chiclete bem doce. Seu paladar era  pobre. Gostava do barato.

Eu usava saia, sandália, roupa colorida. Parava lá e ficava de conversa pro ar. Horas, dias, dias. Pensava bem nele, bem bobinho, enfiando as mãos dentro das minhas pernas. Aquela língua mole na minha boca afoita.

Visceral. isso permanecia dias na minha cabeça. E eu nem sabia que essa palavra existia.

***

O primeiro beijo foi escondido atrás do banheiro da piscina.  Eu  abracei ele, passei os dedos na nuca, respirei baixinho na sua boca. Envolvi meu corpo no dele, como cobra subindo em círculos infinitos.

Posso ainda sentir seu bafo frio de café mal passado.

***

Então ele vinha me ver. Levava a quentinha, dividia comigo o feijão, separava o ovo, a melhor parte do bife. A coca quente. A língua de sobremesa, os braços, pernas.

Idiota, nem uma mão na minha bundinha.

***

Eu digo, repito, reafirmo, não foi premeditado.

Foi depois do cinema. O ponto de ônibus logo em frente. Fomos por dentro do parque.

Eu dizia, vem vem comigo.

Eu via vultos, via o silêncio da noite. Mas só dizia vem. Como se eu conhecesse alguma porta secreta naquele lugar, que pudesse nos levar a qualquer outro lugar.

Venha, venha, seu lindinho.

Ele tirava a roupa aos poucos. Eu ainda não tinha tesão, mas sentia um vontade insuportável de arrancar a sua roupa, de lamber aquela pele branca.

Eu tirei minha blusa, meus pequenos peitos, minha barriga de fora. Pensei que podia pegar friagem. Mas só dizia, tira, tira essa roupa. Vamos quero te ver. Ele me abraçava.

Braços, pernas, bafo frio. Idiota.

Eu queria cada vez mais forte. Cada vez mais, arranca essa roupa, deixa eu ver esse pinto. Deixa, deixa. E eu quase gritava e minha voz me sufocava.

Ele me comeu.

Meu sangue esquentou. O seu olho se fechou. Eu sentada como sapo no colo dele. Eu dançava, ele gemia. Eu pulava, ele contorcia, aquela baba saindo de sua boca. Minhas mãos na sua nuca, minha língua em seu rosto. Minhas mãos no seu pescoço, minha língua em sua boca. Força, força, eu deitada em cima dele. Cobra, serpente, víbora, visceral. Cada vez mais forte, seu pinto, sua garganta, minha língua. Ele me batia, ele se debatia, ele sufocava. Força, força, eu metia a língua a fundo, os dedos roxos, a garganta endurecida. Ele vomitou na minha boca. Eu não abri meus dedos. Não abri, mantive, num ritmo crescente enquanto me movimentava. Sua pele azul, senti seu último suspiro na minha respiração, gozei por muito tempo, sozinha, com seu pinto rígido e morto dentro de mim.

To be continued

3 de jul. de 2011

mantra


aceito a oracao
confio em tuas crenças
entrego minhas mentiras
agradeço tua ausência.