25 de fev. de 2010

Watch out

Ele queria uma mulher que fosse gostosa. Queria um desejo latente, que fosse ao mesmo tempo transgressor, ao mesmo tempo dor.
Na verdade, ele não sabia muito sobre as idiossincracias de relacionamentos.
Além de feio, e coxo, repetia o tempo todo que sabia escrever. Pior, acreditava que isto podia ser argumento de conquista barata.
O fato de ser bêbado pouco importava a essa altura, doses homeopáticas de Viagra e isso era até uma qualidade.

Ele me fazia arder os dentes.
Afinal, competir com mulheres parecia bem óbvio, mas com homens? Algo não parecia certo.
O perfume de chá de frutas secas invadia seus pensamentos. Não, ele não cheivara a frutas frescas.

Parecia cada vez mais difícil me tornar essa mulher gostosa que ele buscava.
Resolvi fazer clareamento nos dentes, alisamento nos cabelos. Estorei a fatura do cartão de crédito comprando roupas em busca de seu desejo fálico.
Me perfumava com gotas de almíscar, lambuzava os cabelos com serum para cabelos secos. Lixava as unhas e tirava as próprias cutículas em casa. Afinal, porque pagaria por isso?
Até decidi correr, pre-ci-sa-va emagrecer.

Saia todos os dias de manhã sentindo muitas felicidades ao mesmo tempo. Eu queria ser muito o amor da vida dele. Naquela época, meus únicos vícios eram os cigarros de filtro branco.

Mas isso foi antes.

Eu o conhecia de um tempo em que os Carnavais não eram como os de hoje. Eram cheios de máscaras, desejos, álcool, salões cheirando a éter.
Ele dormia no meio da pista.
Durante uns dois dias, eu o encontrei dormindo no meio da pista. E me apaixonei por aquele sujeito semi-morto, semi-deus deitado em toda sua delicadeza no meio do salão.
E o sol era uma cascata laranja em tons neóns. Naquela época eu ainda não entendia a psicodelia. Eu nunca entendi.

Corria pelas ruas insuspeita, inflamada de ego por todos os poros. Blasfemando minha imoralidade, verborrágica charlatonice com os dentes cerrados.
As pessoas suspiravam pavor e seus discursos sempre atingiam meu peito em cheio.

Eu não conseguia mais encontrá-lo. Sua imagem torpe, vil, promíscua e baixa.

Desfilei meu veneno ao redor de tantas mesas de sinuca em madrugadas frias. Sofria dores indizíveis e muito profundas. Não precisava compartilhar minhas alucinações.
Por isso, todas as noites tomava uma garrafa de vinho barato e nunca dormia.

O que ele não entendia, quando o reencontrei com esta nova fantasia (um pouco mais gordo, um pouco mais vazio), é que aquelas cenas de olhos lacrimenjantes, cheirando a álcool e com um cigarro em punho, eu já tinha visto.

Agora que eu passava meus carnavais vestida de branco, pedindo bênçãos e acendendo velas, seus convites pérfidos, suas dissimulações me pareciam tão amadoras.

Eu precisava competir. Ele não sabia. Eu nunca diria, apesar da minha nova máscara me cair tão bem todos os dias.

Humf (fazendo biquinho de leão) Muito bravo.

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