13 de out. de 2008

Para Caio Fernando e Letícia

Foi dada a largada. Você sabe? Uma quadratura desfavorável entre Júpiter e Urano.
Até novembro. Um mês inteiro.
E eu terei que enfrentar o dragão que mora dentro de mim.

Aquele mesmo que me acorda todas as noites de madrugada com seu hálito quente e seu grito estéril. Sussurando no meu ouvido seus pesadelos e angústias. (Não queira saber o que é um pesadelo de dragão)
Em um cenário astral como esse que começou a se desenhar no céu, meu dragão fica estupidamente inquieto. Noites cheias de estrela, essas de verão, com dias azuis e amarelos, sem nuvens, faz com que a luz entre diretamente pelas minhas pupilas. e ele, meu dragão, não gosta de tanta claridade.

Então no meio do dia, na hora do almoço, no trânsito ou enquanto assisto televisão ele começa a soltar fogo e labaredas inteiras me consomem pelo avesso.
Tento disfarçar e continuo conversando com as pessoas, tomando meu café ou olhando qualquer vitrine idiota. Mas tenho medo que a fumaça do incêndio que ele causa dentro de mim saia pelos ouvidos, pelo nariz ou que uma unha descole. Que me ferva o sangue e saia qualquer coisa púrpura.
Aperto as mãos com força. Prendo a respiração. Inspiro e expiro.

Foco a atenção no nada. Foco o olhar no concreto, no palpável, no estúpido.

Abro e fecho os olhos devagar, com alguma força, de maneira inconsciente.
Ele se cala. Retorna para sua pequena jaula de tecidos rosas e volta a sugar bem quieto minhas veias. Ele se alimenta em mim, sou eu que gero sua vidinha medíocre. E minha vida é seu mundo. Ele é egocêntrico, precisa ser o centro do meu mundo.

Eu o enfrento, às vezes perco o controle e grito, esperneio, xingo. E tentando atingi-lo com minha faca cega e sem corte, acabo esbarrando em todos à minha volta. E tenho tanta raiva, e tanto sangue púrpura que enfio a faca com força. Quando abro os olhos, todos já se foram. O cheiro de carne e vida ainda impregna o ar, mas estou sozinha. As mãos cor de carvão. Penteio os cabelos, limpo a faca enferrujada no que restou da minha camisa. Recolho tudo que caiu da minha bolsa e ficou pelo caminho. Perdi algumas coisas.

Desapego.

Mas quando penso sobre isso sinto sua pequena cauda balançando, ele só está se ajeitando no canto direito do meu peito.
Respiro aliviada. Ele não morreu. Deixa ele dormir um pouco. Não tenho muito tempo.Olho para o céu. Jupiter e Urano continuam se movimentando.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fantástica descrição sagitariana,
Signo que assa as entranhas...
E transforma as carnes em saborosa picanha...

(Também curto Padre Cícero)

Larissa Saram disse...

Fico me pergunmtando quando você vai escrever um livro! Não vai demorar né!?