6 de out. de 2008

Mentiras de uma tarde de verão

Hoje é um daqueles dias mornos, apesar de estar frio e chovendo lá fora.
Atrás das cortinas e enormes janelas de vidro, estou insensível à vida toda que pulsa gelidamente através dos carros fumaçantes, ruas esburacadas, guarda-chuvas e muito mal humor.

A sala, apesar de grande e sem paredes, está encoberta por uma leve bafo quente. O pé direito baixo, o barulho incessante dos teclados, algumas tossidinhas discretas, alguém falando algo que não me importa no telefone e todos os rostos impassíveis diante das telas multicoloridas, multifuncionais, multiplanas.
Não digo - Há vida lá fora.

O que esperar? O Gene Kelly de cuecas, maquiado a la David Bowie, dançando axé com um taco de beisebol na mão? Ou pelo menos um Brás Cubas qualquer pra morrer hoje. Uma avó pra fazer chá e bolinhos de chuva. Um filme da Xuxa na Sessão da Tarde e uma receita de rocambole na Palmirinha. Um amor pra chorar e um cachorro para olhar através das janelas embaçadas a chuva lá fora.

Mas olho pelas janelas sem me dar conta do dia triste e lindo que acontece ao meu redor. Sem me dar conta que os dias podem ser algo além de paredes brancas, frias e impessoais, além de um relógio cheio de alarmes tic-tac-ploft-plim.

Preciso parar de achar que o mundo gira ao redor do meu umbigo.
Uma questão de perspectiva.



3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse Medza!

Meggy disse...

Belíssimo texto!
beijo Linão!

Larissa Saram disse...

A gente tem que aprender a se encantar mais com as coisas simples!