5 de nov. de 2010

O lobo e mar

Eu construi minha casa.
Você não pode entrar.

Eu cuspi em nosso caminho.
Você sequer pode notar.

Estamos cegos.
Engasgados das histórias que inventamos.

Sigo altiva.
Você não conseguirá me decifrar.

*

ô seu pedro, que peixe tem ai bom pra sashimi?
shashimi? Ahh, tem o piáu, o tucunaré, né? Qualqué um dos dois fica bão.
Vo levá o tucunaré.

*

Eu tirei uma foto na cachoeira.
Eu fiquei comendo um monte de acerola com a Ariane debaixo do pé.
Eu recolhi todo o lixo com o Oswaldo. O seu Oswaldo é porco.

*

Eu moro num apartamento de 50 metros quadrados.
Eu não beijo a boca de poodle nenhum, ainda.

*

Eu não tenho pudor. A moça me disse e pediu desculpas.
Eu queria beijar as mãos dela: ai, quem me dera você tivesse razão.

Eu tomei uma caipirinha de manjericão. Eu sonhei com você.
Eu podia ter beijado a foto do meu passaporte na hora que vi minha foto estampada na marca d'água.

*

Eu almocei assistindo um jogo de futebol.
Eu vi a chuva chegar.
Eu vi a tarde passar. Eu sorri.

*

Eu queria muito poder te salvar de você, baby.

*

Eu vejo a noite entrando na minha parede invisível. Oito horas, pisca nervoso o reloginho do meu desktop: noite de sexta de verão.
Penso em ficar com pena de mim e penso a tristeza de passar a noite sozinha.

Ai quero muito alguém e um jantar.

Pego o Terminal Pirituba e olho a noite úmida: pode ter trânsito, vai. To com pressa nem nada.

Desço na Faria Lima. Ai, se eu tivesse alguém e um jantar. Caminho até a Rebouças (por que esse cara caminha tão perto assim? melhor não olhar) Tenho nada não, né mesmo? Nem um filme bom no cinema, nem uma peça de teatro.

Parque D. Pedro. Desce a Consolação, cobrador? Penso no jantar, no vinho, na musica. E, de repente, tá tudo tão bem desenvolvido na minha cabeça, né? Vou desperdiçar isso não.

Vou até o Pão de Acucar da D. Veridiana, subo a Maria Antonia. Paro na banca de jornal, procuro os peitos da moça da capa de revista que parecem os meus. A revista com a capa do Paul. 15 contos. pô, vai se ferrar.

Saio pela calçada abarrotada de histórias. Ai, podia encontrar alguém bem ali pra me salvar da minha estupida ideia de levar minha sexta-feira sozinha adiante.
Desvio da fumaça do cigarro do menino, das amigas bebendo cerveja na escada do sesc, como tem bares novos que eu nunca conheci.

Quero comprar um vaso de flores, umas velas aromáticas. Fecho a fatura um gnocchi semi-pronto, um molho de tomate de microondas e um vinho de 22 contos.
É o prato da noite.

Vou logo ali matar a curiosidade de saber o que é um date comigo mesma. Vamos ver, se eu for muito legal, e desconfio que eu seja, te passo me telefone. Quem sabe você não me leva pra conhecer uns desses barzinhos novos da Maria Antonia?


*

Eu sinto muito por todos nós.

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