13 de fev. de 2009

As mãos estão trêmulas: Poética

Olhos podem ser lívidos?Por que não consegue mais escrever poesias?O que se perdeu?Talvez tenha sido quando desaprendeu a perdoar, se é que alguma vez soube.
Quando começou a ponderar tanto as coisas?E achar que literatura eram posts e escrever obrigação e linguagem algo que pudesse ser adequado à necessidade?
Por que regras gramaticais sempre bloqueavam o processo criativo.

Será que ninguém seria jamais capaz de compreender que certas coisas não se aprendem? Que, para certas coisas na vida não é preciso ter regras ou manual de instruções?
Coisas. Paixões, destino, coincidências. Frases curtas.

(IT) tentava se superar, fugir de seus próprios lugares comuns. Porque sentia nos seus textos, assim como sua vida, uma grande repetição. E só de pensar nisso, continuava repetindo o mesmo erro. Claro, havia uma certa lógica, isto é, se conseguisse enxergar a longo prazo.

Ciclos.

O ciclo dos treze anos. Igreja.
O ciclo dos catorze. Hi-Fi.
O ciclo dos quinze. Árvore.
Aos dezesseis. Sexo.
Aos dezessete. Pizza+motel. Sim, paredes salmão.
Aos dezoito. Nova Iorque.
Aos dezenove. Mentiras.
Aos vinte. Ônibus.
Depois perdeu as contas.

Hoje. Edição de texto.
Hoje. Por que é sempre hoje e o hoje nunca acaba.

Mas não queria falar sobre nada disso. Queria escrever. Como sempre quis, queria algo que não estava em si. Nem na madeira, nem nas traças, nem nos seus silêncios. Muito menos no pão, ao alcance de seus pés. Além de onde sua vista alcançava. Por que sempre havia muitas paredes cerqueando o pensamento.

Um dia, deitou-se no chão. Fechou os olhos. Porque o céu era tão assustador?Com nuvens e uma imensidão que fugia ao seu controle. tudo continuava parecendo pequeno. Mesmo o infinito e todas suas idiossincrasias eram banais. Por mais que se esforçasse sua vida nunca chegava ao clímax.

Um texto pode ter sim:

começo-meio-fim.
Introdução-dois argumentos-alguma parcialidade-uma conclusão que retomasse o começo.

Mas sua vida não seguia nenhuma lógica. Claro, seguia: Paixões, destino, coincidências. Mas com frases curtas não havia conclusão.

Morte. (Angústia de quem vive, solidão de quem ama). Não, não coloque aspas. Não, não indique referências, copie deliberadamente. Quem inventou que não posso copiar? Se minha vida é uma grande repetição de si mesma, por que não posso imitar, reinventar, emular?

Meu DEUS (CAIXA ALTA), digo. Quer que eu repita? Os gregos, já diziam, e diziam tanto e tanto. Pode se viver uma vida toda, sonhando com a glória, mas ser só (pausa) medíocre.

Retórica nunca levou ninguém a lugar nenhum, sério.

(heresia)

Sim, como a linguagem pode ser simplesmente reduzida a Bechara? Sabe quem é Bechara? Não se importe, juro, não faz a menor diferença na sua vida.

Mas quando via alguém moreno-cigarro em punho-uma cerveja em um copo americano:

Cara, essa é propaganda, lembrei de nóis. Carnaval é coisa de gente besta.

Ou

Uma foto de si mesmo (o outro, é uma história, tá?) no jornal, enchia o peito de orgulho e batia as asas e balançava o rabo (pensei num pavão, veio um cachorro, fazer o que?)

Meu DEUS, sentia um acréscimo de estima por si mesmo (Ãnh?Isso eu sei!) e pensava que pessoas vaidosas e egocêntricas e autoritárias não podiam fazer nada além de manipular a massa. O Povo.

Se Aristófanes e Ivete Sangalo podiam falar em nome do Povo, por que eu não posso?

Ivete Sangalo mostrando seu camarim-exclusivo-high tech-na TV:
“Sabe porque eu tenho TUDO isso?Por causa do Povo, só por ele.”

Agora sim aspas, para não deixar dúvidas.

Devo concluir o texto retomando o começo, pensou. Mas aí teria que saber se olhos podem ser lívidos.

Dostoéivski diria que sim. Mas e Bechara?

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