Curiosa sua letra redonda na capa do livro.
Nuvenzinha, florzinhas tímidas.
Triste gente que escreve com letra de criança, sua letra é de menina. Moça de 18 anos, que ouve disco sozinha no quarto.
Como a Lorena, bailarina na janela. Inventando cheiro de pêssego na rua.
Mas você nunca leu as meninas. Me emprestou a disciplina do amor, e marcou com xizinhos as páginas que mais gostava. De preto, azul, vermelho.
ingênua, não cometeria a indelizadeza de corações cor-de-rosa. Acho que rosa nunca foi a sua cor.
Eu gostei muito do texto do sonho também. Te disse aquele dia no quarto que você arrumou. Eu reparei. Te disse, não?
Ainde não terminei o livro, estou em novembro, quando moço da TV falada faz denúncias na TV. Você fez um xizinho ao lado. Eu também fiz. Vou escrever um A em volta do que gostar, combinado?
você faz xizinhos políticos, xizinhos sobre o amor, xizinhos sobre o fazer literário, sobre o processo de criar.
Eu fiz um A em um texto sobre a morte (você não sabe como é difícil pra mim escrever sobre isso), sobre as mentiras. Sobre as dificuldades, sobre Álvares de Azevedo.
Eu compartilho da angústia: da tua, da Lygia, da minha.
Compartilho a sua crença no amor. No interesse pelo noticiário político. Nas dificuldades sociais. Eu escrevo. Porque você parou, mãe?
Eu resgatei a menina que ficou presa no livro. E aquela menina, mãe, se parece muito com a mulher que sou hoje.
Eu te vi traduzindo Lygia Fagundes Telles em xizinhos discretos na beirada das páginas. Eu vi o livro escrevendo as verdades da minha mãe.
Eu vi minha história sendo contada.
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