29 de abr. de 2009

Never been kissed

Tá bem, tá bem, depois dessa preciso me redimir, já que é para sucumbir a terrível tentação de textos longos.
Eu, que mantive-me clean durante quase um mês, careta, e livre de prolixismos.
Senti-me tão mais saudável, você não sabe como é se livrar do peso da redundância e da superadjetivação.

Não, não fui mais feliz, confesso. A vida é muito melhor quando cedemos aos excessos, mas meu pescoço andava muito bem integrado ao meu tronco. E, por alguma razão, eu havia desligado aqueles fiozinhos que me prendiam aos meus textos – os ruins, os imaginários, os escritos à lapiseira 0.7.

Por alguma razão, minha vida se tornou algo que transcendia os limites laterais da página em branco. Tirei os sapatos e caminhei com as pontas dos dedos até o canto superior esquerdo da folha. Coloquei minha touca de banho, tirei dos bolsos a terra, os chaveiros, penteei os cabelos e limpei o supor do rosto com as costas da mão.

Pulei de cabeça sem abrir os olhos. Girei pela massa uniforme cinza, macia e espumosa. Derreti pelas entradas de ar daquele velho computador empoeirado e quando dei por mim estava jogada sem roupas na porta da tua casa.

Você tentou me vestir, claro, eu relutei. Mas está tão bom, livre das minhas próprias obrigações morais, esbravejei.

Quer dizer, você sabe que não esbravejei. Falei bem baixinho no seu ouvido, porque você não merece alguém falando alto pelos seus caminhos. Porque você, que tem olhos cravejados multicoloridos, precisa é andar bem mansinho e de visões que possam ir além do seu astigmatismo.

Então eu tomei banhos gelados. E nem notei como andava minha janela porque agora a visão dela dá para o outro lado da rua. Aquele que você não conhece, mas que eu descobri na margem do teu pulso, que senti entre suas respirações, que eu li em seus lábios enquanto você suspirava.

E tanto de mim se dissolve em você. Afundando em suas paredes tão alvas, sendo engolida por sua cama e seus lençóis cor de sangue, não de carne.

Que eu até saí andando outro dia. 5 horas da tarde. E foi como se eu invertesse a ordem metafísica do dia. E a noite eu vivesse mais à meia luz que durante todo o restante das horas em que eu ando de óculos de sol para impressionar estranhos.

Ando mais impressionada com minha estranheza ao notar que noite e dia e luzes não fazem mais diferença quando se livra das formas e investe-se mais em conteúdo.

3 comentários:

*Livia* disse...

"E tanto de mim se dissolve em você. " Aodrei isso!
Bjos

Amanda Proetti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amanda Proetti disse...

Quando alguém me disse: "ela escreve como Caio Fernando Abre", digitar o endereço do alguém na barra do explorer e adentrar-te pelo link ao lado foram o primeiro e segundo atos meus.

Ele, o alguém, não mentiu!

Admiro consideravelmente a genialidade do INCRÍVEL Caio. Como não gostar então de um texto que o remete?!

Muito bom, querida. Texto delicioso! PARABÉNS!!!

Os próximos passos: digitar o endereço na barra de inclusão aos meus "Companheiros de inspiração" e clicar em SALVAR! rsrsrs

Beijão!!!