Ato 1 As louças do armário
Hoje eu queria poder te ver
Hoje eu queria poder te ver
E escolher, por
uma noite, os caminhos que deveríamos seguir
Hoje eu queria
poder te contar uma piada e ficar deitada no seu colo
Inventando os
carinhos que você não me faria
Sentido os gostos
dos beijos que você não me daria
Eu poderia
aparecer na sua casa
e cumprimentar seu
porteiro e subir o elevador
treinando meu
sorriso no espelho.
E poderia entrar
na sua casa te abraçando
Contando meus
planos
Desvendando nossos
abismos
Só por esta noite
você poderia me amar
Eu poderia brincar
de ser sua
Você poderia me pedir pra ficar.
2 A moça que passa
Eu assisto a
cidade através das janelas engorduradas do ônibus.
Eu ouço minha
própria voz pelo fone de ouvido.
O asfalto
transpira meu suor.
Na fachada no
prédio da frente: Maria Cecília.
A moça apressada
equilibra-se no meio-fio.
Eu vi alguém se
jogando na linha do trem.
Eu vi o rapaz com
taco de beisebol na livraria.
Eu vi a cidade
vazia.
Havia uma minhoca
morta na calçada.
Uma Maria Fedida
na janela do 14º andar
A borboleta
amarela.
Eu vi minha cara refletida no espelho da loja. Eu vi sua saudade
escancarada nos meus olhos, se abrindo em flor.
3 No final daquele verão
Acalmo o coração
Passo fino, calo
as palavras
Caminho sozinha
pelo centro.
Seco os cabelos ao
vento. Esqueço os brincos em casa.
Acendo incensos ao
mesmo tempo.
Não como carne.
Não passo rímel.
Tenho preguiça às
terças-feiras.
Acordo às 7h no
fim de semana.
Ouço a mesma
música todos os dias.
Leio revistas
diferentes todas as tardes.
Mudei a energia da
casa.
Troquei a cama de
lugar. Os lençóis, as gavetas, os gestos.
Sigo pela cidade
como estrangeira, pelos metrôs e seus espaços. Pelas ruas e seus vazios.
Sigo cantando meu amor, a viagem já começou.
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