7 de nov. de 2008

Vinte e cinco motivos

Sento-me com as mãos sobre o colo. As pernas alinhadas para frente. Coluna ereta.
Olhar fixo no seu cordão. Aquele que você tirou delicadamente do meu pescoço.
Ajeito os cabelos ao balançar levemente a cabeça.
Sou altiva, prepotente, equilibrada.
Além de não não servir para mim, você me atrapalha. Você e todos os outros.
Por que eu....ahhhh eu.
Se tivesse um pau grande igual ao seu seria general.
Mas eu não tenho nada. A não ser muito medo.
Hoje me sinto absolutamente situada no tempo e espaço adequado, mas deslocada tangencialmente do caminho que eu deveria seguir.
E se eu estiver errada? E se no fundo eu não tiver razão?
Eu.
Acho que só preciso ficar sozinha.
Ou não. Talvez esse seja o erro.
Talvez deva parar de escrever. Parar com florais, yoga, ler, faculdade, trabalho.
Vou começar a acordar esperando o fim de semana. Sair para baladas na Vila Olímpia pra encontrar executivos que fizeram administração.
Parar de ler jornais. Começar a ouvir axé, ir em micaretas, festas patrocinadas por operadoras de celular, comprar sapatos da moda, encontrar um marido justo e responsável.
Fazer uma poupança, pagar previdência privada. Assistir novelas.
Comprar pacotes turisticos da CVC e almoçar mais lasanha e estrogonofe.
Beber vinhos de 20 reais, aquele que investem num rótulo legal e ficam bonitos quando eu guardar na geladeira.
Talvez deva visitar mais meus pais, dormir mais, assistir mais TV, reclamar mais, ser mais crítica, ter valores morais incorruptíveis, acreditar em verdades absulutas e resolver casar na igreja.
Talvez deva parar de escrever.

Cruzo as pernas. Apóio o cotovelo no joelho e seguro o queixo com as mãos.
Sim, pareço muito intelectual.
Mas não, não me lembro que o Monteiro Lobato havia criticado a Semana de Arte Moderna.
Não, não escrevo nada em grego.
Não, meu latim é uma bosta.
Meu inglês é com sotaque e não tenho dinheiro pra pagar o espanhol.
Sim, uso umas expressões em francês. Soa tão sofisticado.
Mas fumo cigarro de menta como putas pobres ou peruas divorciadas.
Sim, falo sobre teatro como se fosse uma habitué, mas chamo Paulo Autran de Paulo Francis.
Confundo gregos e romanos e não me lembro de todas as figuras de linguagem.
Sim, minha mente está confusa. Não tenho memória.
Sou irresponsável, imatura, inconsequente, por isso, hoje estou aqui.

Sentada com as pernas cruzadas.
Olhando uma garrafa de água cheia, um celular morto, uma janela empoeirada, tentando decidir que filme assistir, se vou de MacBeth ou Marques de Sade.
Decidindo se te ligo ou te esqueço.
Decidindo qual amigo odiar mais e qual a próxima mentira a contar.

Decido me levantar.
Esfrego as mãos.Tiro a roupa.
Caminho em sua direção.
Te beijo com os olhos fechados. As palmas da mão abertas. Peito limpo. Cabelos sobre seu rosto.
Sim, você já sabe. Não sei sobre uma porção de coisas importantes. Não sei sobre mim mais do que sei sobre você.
Mas não te culpo mais do que deveria me culpar. Por que eu não queria ter me perdido, mas agora ......de que importa...
Já acendi um fósforo, sentei ao lado dos sacerdotes. O som do canto envolvente, o fogo.
A redenção pela crença. A redenção pela arte, pela fé do que restou das minhas cinzas.
Vem, beija minha pele. Silencia o ambiente.
Me conta aquela história que você nunca terminou, por que eu já cansei de falar de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

De nihilo nihil

Difficile est longum subito deponere amorem

(achei no google)