1 de mar. de 2009

Mímica

E se as palavras acabaram?
E se os olhos se fecharam?
E se o coração anda batendo, acuado, na garganta?
E se agora, só o não-dizer pode explicar o que os olhos não sentem mais?

Aperto os lábios, simulo uma respiração profunda.

Vem, vem comigo. Ajuda a rasgar minha pele.
Vem, vem agora que o asfalto é quente. Vem que tudo ainda é sujo.

Entrega.

Abre minha carne. Mata minha sede de sangue, mata seu desejo de cuspir labaredas de carvão.

Desfragmentação.

Costura as pontas dos meus dedos. Faz meus lábios azuis, meus cabelos anis. Minhas unhas ocre.
Coloco uma roupa de domingo e decoro expressões em latim.Você sorri assim?

Pausa.

Corro nua pela avenida. Corro em silêncio.
Olhos fixos em....As mãos frias, os pés, muito pés acima de todas as cabeças.
Te encontro na terceira margem da sarjeta. Você me dá a mão.

E sou eu quem faço o trânsito parar só porque você pediu para atravessar.

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