3 de mar. de 2009

Superupdate

Preciso escrever algo bem feliz.
Algo simples.
Seguro com força meu queixo entre as mãos, cotovelos apoiados na mesa.
Deixa, deixa o cigarro queimar, a água esquentar e, pelo amor de deus, desliga essa TV.
Abaixa o tom da voz, minha cabeça me mata.

Não, não chega muito perto não, que hoje não quero.
To cansada, sabe? E ainda nem chegaram as porras da sei lá, como era aquela música sobre abril?As cores e tudo mais?

Nem faz diferença.

Ainda é março e aquelas águas todas não chegaram na minha vida ainda. Na sua sim?Que pena...

Prendo os cabelos, ajeito para trás. Sim, ouviu bem?Já consigo, porque fazia tempo e sabe...Que mania de me interromper. Porra, você me irrita muito.

Tá, nem tanto, confesso. Acho que a culpa é do calor, sabe? É. Quase nada combina com isso. Isso me lembra, já te falei? Queria ser negra ou tartaruga.
É. queria.

Agora mudei de idéia. Quer dizer, mais ou menos. Quero ser...tanta coisa chata no mundo, né? Não quero ser nada.

Quero ser buraco. Vazio. E nem se atreva a tentar plantar sementinhas dessas que dão coisas chatas como flores. Buracos melhores são os ocos. Aqueles que ninguém repara.

Ai que papo de merda. Você cansou? Você também é um puta chato. Mas to com preguiça até de você.

Não abre essa porta, não tá vendo a janela? Acho que a culpa é dela. Essa janela suja. Claro, já tentei limpar, mas tipos, ela é alta e grande e eu não alcanço a parte de cima, nem do lado de fora. E tenho medo de morrer, manja? Tipos, que morte escrota, pior que isso só morrer, uhmmm, deixa eu pensar em uma morte estúpida. Acredita que não vem nada a cabeça?

Enfim, tenho medo de morrer. Antes eu não tinha, aliás, eu era, sabe...Bem mais idiota. Você não acha?
Anyway, eu era besta. Tinhas umas idéias assim, bem piores que as que tenho hoje.

É, porque hoje eu sou assim, desse jeito que você não consegue enxergar. Passa seus óculos pra mim, deixa eu ver minha cara no espelho. Já sei!

Queria assim, atravessar o espelho. Isso, bem Alice. Porque, meu caro, ser Alice não é pra qualquer um. É uma responsabilidade tão grande, que às vezes meus ombros cedem a tanta pressão. Ou quase cedem, porque, além de tudo, sou muito orgulhosa. Você não consegue ver, claro, tem miopia, bobinho.

Não, não chega perto ainda não. Not ready, not in the mood.

E muitas pessoas falam comigo ao mesmo tempo e eu não-me-importo. Me importo só com essa minha insônia. E quando se sofre de insônia é como se você passasse o dia todo semi-desperto, semi-morto, semi-quase-sem vontade.
E isso mata mais que morte-morrida-estupida-de-cair-de-janelas.

Por favor, arranca meus cabelos com força, me puxa pelos braços, violentamente, me surpreenda, peloamordedeus. Rasga meus lençóis, joga esses livros no chão e me come no teto. Anda pela minha parede e acende esse cigarro no concreto. Tem concreto por toda parte, meu amor, não seja burro.
Quebra, quebra os quadros e pratos. Vamos andar sobre os cacos de vidro, vem, olha como é bom. Rola comigo pelo chão, mas não solta meu cabelo, me guia. Não sou sua nem por um segundo, você tem que obrigar a isso. Me tira de mim, vai. Me descola de mim mesma. Assim, ó: segura com força, me dá um beijo, e depois arranca de uma vez só.

Quando eu acordar não serei mais eu. Nunca mais serei. Só estarei com você.
E até isso vai durar muito pouco, até que você me despedace de novo, com tesoura dessa vez.

E eu fique alguns dias, assim, jogada pelo meu chão. Sem vontade de mexer. Só vendo as partículas de poeira dançando soltas pelo ar. Pensando com os botões que não sei mais onde estão: queria mesmo era ser vento. Ventos de março, só para passar com desenvoltura por cima dessas águas todas que nunca chegam.

Nenhum comentário: