19 de mai. de 2009

Monologuismos

- Eu adoro me fazer de burra.
Você sorri e finge não entender.
Resolvo mudar a estratégia.
- Paciência é uma das minhas virtudes.
Você me olha indagador.
- Claro que não é. Não lembra aquele dia com a moça que.
Não, não era esse o rumo da conversa.

Mantive-me sentada nesse dia claro, consumida por essa angústia corta-fogo-carne-respiração.
Acho que não queria ser salva.
Afogada em elucubrações nada dignas.
Não conseguia nem fazer poesia. Digo, poesia de verdade. É, versos livres. Não se pode nem mais tentar ser poeta atualmente. Porque queria ser paransiana e barroca. Sim, barroca sou um pouco.
Mas a imagem que não me foge nunca é de Pasárgada, que agora nesse exato momento parece-me mais perto que antes.

- Será que é alguma forma de depressão...Isso foi uma pergunta...
- Já falamos sobre isso anteriormente. Você está se repetindo.
- Estou só tentando te impressionar.

(Respiro fundo, buscando na superficialidade da garganta um ar poluído e abafado de cigarros amarelados)

Não está adiantando. Quero te persuadir de algo que não acredito tanto assim. Por um instante desejo ter valores morais incorruptíveis.
Queria acreditar na felicidade e que, ahhh sim, há pessoas que não, não....assim, não são como eu. Pessoas como você. Quer dizer, mais ou menos.
O problema real é se apaixonar por pessoas que você admira, muito mais fácil se apaixonar por bêbados, torpes. Muito mais fácil, com certeza. Autoridade incontestável.

Mas eu preciso sair desse círculo vicioso, é necessário fugir das grades, amarras, prisões, dragões e aquela vontade incontrolável de sair correndo nua por ruas sujas e sarjetas cheirando a.

Não quero continuar, porque não é essa a imagem. A imagem de tododia de hoje é mais parecida com não sei, Olga Benário....nada de Lorenas, Lião ou Anas Claras.

Hoje é dia de animus.

- Lembra quando te falei de animus pela primeira vez:
- Eu nem precisei me esforçar, eram dias de sol aqueles, dias de sábados, dias de recomeços, dias de grama e corridinhas e comidinhas e noites quentes e mentes.
- Mas eu não mentia, tento de defender do seu olhar-inexistente-inquisidor.
- Já disse que você tem olhos lindos:
- Lindos, lindos olhos obliquos-cravejados-multicoloridos-disformes.

(Suspiro)

Penso em você. E me vem essa imagem toda cheia de coisinhas que eu criei para montar um mundo perfeito. Assim, pra você e pra mim. Mas me lembro que não há nada de rei em mim.
Não há nada de engajado, politizado ou escapista.
- Faz tempo, você não diz que me acha linda. Nem inteligente, nem que eu sou a melhor pessoa que poderia cruzar seus caminhos tão doces e sublimes,
Muito silêncio e felicidade e te encher de beijos até te afogar de tanto prazer.

Perninhas para o ar, risadinhas cumplices, bobagens noturnas e súbitos acesso de tesão durante os almoços. E sim, encher seus dias de flores e pratos e orgulhos e conquistas e sinceridade, emoção, verdades.

Chega das mentiras de sempre. Das fugas. Das saudades. Dos fracassos. Dos fogos, da água, de respirações que não sejam aquelas que um dia aprendi e já desaprendi por falta de hábitos. E regras e convenções,

Como pode: Ser assim dramática. Fala sério, você nunca notaria. Mas eu achei adequado dividir todas essas coisas antes de. antes de. antes de saber se era. porque eu queria (quero), desejava (desejo) que fosse (que seja) e será.

Então consigo me aquecer. Ahhh como adoro Caio Fernando.
Gostou da intimidade:

Mas nesse momento não quero pensar em coisas neste sentido místico da coisa. Hoje sou terra, coisificada, material, real, dura como pedras ou rios sem movimento. Dona de todo o meu mundo. Esse mesmo que criei para poder desalinhar suas gravatas, quando você usar gravatas. Acho que vai combinar. Fetiche. pronto, falei. Acabei de inventar.E me parece bem sedutor.

Mas aí tem todas essas coisas que não fazem o menos sentido para mim, porque quero todas as janelas do meu mundo abertas só para te deixar entrar. Destruindo com a sua respiração as paredes imaginárias-doggy-vil que só você sabe como apagar com sua borracha e dedos finos e leves, como o ar que vai entrar quando tudo estiver no chão.

Minhas roupas no chão. Seus pés em minhas mãos. E serão zebras, não cavalos. E eles recitarão Kant, não falarão inglês. E eu serei rei. Princesa só se eu puder andar nua na Pasárgada em que irei me desconstruir para você.

Sua respiração ao pé do meu ouvido.

2 comentários:

Amanda Proetti disse...

Voltei a respirar!
Alguns textos por aqui me provocam isso... !
PARABÉNS!

Meggy disse...

Texto Foda de bom!