21 de set. de 2008

Domingo à tarde

Passei na frente do seu prédio. Procurei por luzes acessas, pessoas na sacada, de repente uma festa, fumaça de uma churrasqueira.
Olhei dentro da portaria, te procurei saindo das escadas rumo ao elevador.Falando com o porteiro. Te procurei pela garagem, estacionando o carro, descendo com o lixo, pegando algo no porta-malas.
Fingi que amarrava o tênis para ter tempo de checar se você estava no bar da esquina com algum amigo, tomando uma cerveja e falando sobre investimentos na Bolsa e mulheres.
Entrei na loja de decoração que fica do outro lado da rua. E se você estivesse com ela, e ela quisesse ir na lojinha e você estivesse junto e se quando eu entrasse eu a reconhecesse, e você me olhasse com olhos cravejados verde-mel. E eu ficasse com vergonha e passasse algum conhecido e me cumprimentasse e perguntasse da minha vida e eu dissesse tudo que eu gostaria que você ouvisse e acreditasse. E você ficasse sem graça, e com saudades e vergonha ao mesmo tempo.
Ahhhh, melhor ainda, e se ela, que estava com você, fizesse algum comentário bem estúpido ou te chamasse de morzão e você ficasse com vergonha e reconhecesse que eu sempre tive razão, submissamente eu sempre soube. Porque minha intução me diz e meus sonhos te amarram pelos pés.
...
Acabei comprando um incesso de arruda e um quadro feito de umas caixinhas de fósforo com imagens de orixás.
...
Busquei suas coisas dentro de um caminhão que estava estacionado na frente do prédio. E se você estivesse se mudando?Para um apartamento chique e gigante, cheio de móveis escuros e sem nenhuma planta?Você levaria seu cheiro com você ou restaria algo impregnado nas paredes do antigo imóvel?
E se eu me mudasse para o apartamento em que você vivia?Lavaria as paredes com bombril e cândida, pintava tudo de rosa e laranja e vermelho. Enchia de samambaias, livros, CDs de chorinho e música francesa.
Colocaria minha cama do lado oposto onde você colocava a sua. Um armário na parede oposta. Uma grande mesa no centro da sala.
......
Talvez você se mudasse, e eu nunca mais te visse. Talvez você sumisse e aquela rua voltasse a ser só uma rua suja, esburacada e escura.
Talvez eu não tivesse tanta vertigem.
E eu tivesse a certeza que você não está lá. Nem em lugar nenhum. Porque ainda te procuro, e você está lá, só que eu não consigo te ver. Eu não consigo te alcançar no alto do seu 13ºandar.

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